Tuesday, August 10, 2010

FAISAIENT UN TAPIS DE DÉGÔUT GLACÉ



"Os melancólicos eram tudo menos loucos
Eram conquistados deglutidos rejeitados
Pela massa opaca
Dos monstros práticos

Os melancólicos tinham a sua idade da razão
A idade da vida
Não estavam lá nos começos
No instante da criação
Coisa em que não acreditavam
E não souberam à primeira tentativa
Conjugar a vida e o tempo
O tempo parecia-lhes longo
A vida parecia-lhes curta
E dos cobertores manchados pelo inverno
Sobre coração sem corpo sobre corações anónimos
Faziam um tapete de nojo gelado
Mesmo em pleno verão."


Paul Éluard, Últimos Poemas de Amor, trad. Maria Gabriela Llansol, Lisboa: Relógio D'Água, 2002, p. 125.

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