Monday, July 31, 2017

EROS (servindo de homenagem à Divina Jeanne Moreau)



"E ela não se faz esperar! - Cai daquele céu
Aonde subiu, vinda do caos antigo;
Em etéreas asas, pairando, envolveu
Em Primavera a fronte e o peito; 
Fugir parece, da fuga tornou:
E a dor é prazer, o gozo perigo. 
Há corações que no geral se perdem, 
Mas os mais nobres a um só servem."


J. W. Goethe, Poesia, trad. João Barrento, Lisboa: Círculo de Leitores, 1993, p. 179. 

Sunday, July 30, 2017

TUCHÊ



"Estreita é a cerca, mas cerca-a, na verdade, 
Algo mutável que, atento, nos rodeia;
Não ficas só, formas-te em sociedade, 
E ages como qualquer outro agiria:
A vida é um mar de instabilidade, 
Jogo fútil feito de ninharias. 
Fecha-se o anel dos anos, e a candeia
Espera, tranquila, a chama que incendeia."


J. W. Goethe, Poesia, trad. João Barrento, Lisboa: Círculo de Leitores, 1993, p. 179. 

Saturday, July 29, 2017

DAIMON



"Como no dia que te viu nascer, 
Ergueu-se o Sol, saudaram-no os planetas, 
Assim cresceste até homem ser,
Segundo as leis dessa hora, secretas. 
A ti não fugirás, terás de ser
Assim, já diziam Sibilas, profetas;
Tempo e Poder não irão destruir
Forma plasmada que, viva, quer crescer."


J. W. Goethe, Poesia, trad. João Barrento, Lisboa: Círculo de Leitores, 1993, p. 179. 

Wednesday, July 26, 2017

PARA A MEMÓRIA DE A. DE S. FARIA



"
5
Lembra à tua irmã que os medicamentos do pai
Estão na gaveta do meio
Ele está todo o dia no meu pensamento
É aí que vireis ao meio-dia chamá-lo
Para comer"


Daniel Faria, Poesia, 2ª ed., ed. Vera Vouga, Lisboa: Assírio & Alvim, 2015, p. 319. 

Tuesday, July 25, 2017

LIBERDADE FORMAL


"As artes da compreensão (hermenêutica) são tão variadas quanto os seus objectos. Os signos são ilimitados, tanto nos seus modos combinatórios como nas suas potencialidades de significação. Não há nada de mais exasperante na condição humana do que o facto de nós podermos significar e/ou dizer seja o que for. Esta infinidade semântica implica uma variedade ilimitada de abordagens à interpretação. No caso da linguagem, de qualquer forma de discurso ou texto, de qualquer acto de fala, as palavras correm atrás das palavras. Não há, a priori, nenhuma limitação para os modos pelos quais essa busca, esta demanda de significação, pode ser conduzida. As palavras que usamos para elucidar ou parafrasear ou interpretar («traduzir») as palavras da mensagem, do texto diante de nós, partilham com essa mensagem ou texto uma radical indecidibilidade. São, como nos ensinou a linguística depois de Saussure, marcadores arbitrários, convencionais. Um «cavalo» não se parece mais com um cavalo do que um «cheval». Uma liberdade formal associa-se ao signo."

George Steiner, Errata: revisões de uma vida, trad. Margarida Vale de Gato, Lisboa: Relógio D'Água, 2009, p. 29. 

Monday, July 24, 2017

GRINALDAS



"Os nossos sonhos são Hermes de mármore
Que pomos nos nossos templos
E iluminamos com as nossas grinaldas
E aquecemos com os nossos desejos. 

Nossas palavras são bustos feitos de ouro
Que levamos connosco para os dias, - 
Os deuses vivos elevam-se
Na frescura de outras praias. 

Estamos sempre extenuados,
Quer fortes, quer em repouso, 
Mas temos sempre sombras radiosas
Que fazem os gestos eternos."


Rainer Maria Rilke, "Orações das Donzelas à Virgem Maria", in Poemas, 5.ª ed., trad. Paulo Quintela, Porto: Asa, 2003, p. 51. 

Sunday, July 23, 2017

CANÇÃO CÓPTICA



"Ouve o que te vou dizer:
Juventude quer-se vivida, 
Vê se aprendes senso e zelo:
Na balança desta vida, 
Fiel ao centro é raro vê-lo;
Tens de subir ou descer,
Tens de mandar e ganhar, 
Ou servirás, perderás, 
Sofrerás ou vencerás, 
Serás bigorna ou martelo."


J. W. Goethe, Poesia, trad. João Barrento, Lisboa: Círculo de Leitores, 1993, p. 134. 

Saturday, July 22, 2017

PAIDEIA


"Todas as nossas línguas são obras de arte. Durante muito tempo, procurou saber-se se existiria uma língua natural e comum a todos os homens; realmente, existe uma: é a que as crianças usam antes de saberem falar. Essa língua não é articulada, mas é acentuada, sonora, inteligível. A utilização das nossas levou-nos a negligenciá-la ao ponto de a esquecermos completamente. Estudemos as crianças e, em breve, voltaremos a aprendê-la, com elas."

Jean-Jacques Rousseau, Emílio, vol. I, Livro I, trad. Pilar Delvaulx, Mem Martins: Publicações Europa-América, 1990, p. 49. 

Friday, July 21, 2017

JOGOS


"À noite, ainda hoje miro para os olhos fechados e começo a ver os jogos de composição que vou fazendo cá por dentro, as cores fantásticas arrebatam uma espécie de sementes de trigo, eu faço a lavoura, aparto o joio para um lado. Expatrio o formigueiro de traços que não percebo qual a função, apenas o contraste, alegria de separar, traços que se sentem felizes pelo simples facto de se verem apartados, que estão à espera de empurrão à esquerda."

Ruben A., O Mundo à Minha Procura, vol. III, Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1968, p. 124. 

Thursday, July 20, 2017

BORRALHO



"Também a poesia é filha
da necessidade - 
esta que me chega um pouco já
fora do tempo
deixou de ser a sumarenta alegria
do sol sobre a boca;
esta, perdida a fresca 
e nacarada pele de adolescente, 
mais parece um desses figos 
secos ao sol de muitos dias
que no inverno sempre se encontram 
postos num prato
para comeres junto ao fogo."


Eugénio de Andrade, "Rente ao dizer", in Poesia, 2ª ed. revista. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2005, pp. 475-476. 

Wednesday, July 19, 2017

TUDO ESTÁ BEM


"Tudo está bem, ao sair das mãos do Autor das coisas; tudo degenera entre as mãos do homem: força uma terra a nutrir os produtos de outra, uma árvore a dar frutos de outra; mistura e confunde os climas, os elementos, as estações; mutila o cão, o cavalo, o seu próprio escravo; transtorna tudo, tudo desfigura, gosta da deformidade, dos monstros; não quer nada que seja como o fez a natureza, nem sequer o homem; precisa de o adestrar para si, como um cavalo de manejo; precisa de modelá-lo à sua maneira, como se fosse uma árvore do seu jardim."

Jean-Jacques Rousseau, Emílio, vol. I, Livro I, trad. Pilar Delvaulx, Mem Martins: Publicações Europa-América, 1990, p. 15. 

Tuesday, July 18, 2017

DIÁRIO



"Dia impressível mais que os outros dias.
Tão lúcido...Tão pálido... Tão lúcido!...
Difuso de teoremas, de teorias..."



Camilo Pessanha, Clepsidra de Camilo Pessanha, org. Tereza Coelho Lopes, 3.ª ed., Lisboa: Editorial Comunicação 1992, p. 104. 

Monday, July 17, 2017

VEROSÍMIL


"Toda a gente estava convencida de que não se podiam exprimir tão ao vivo sentimentos se não haviam experimentado, nem pintar desta maneira os arroubos do amor, sem ser através do próprio coração. Nisso tinham razão, e o certo é que eu escrevera o romance nos mais ardentes êxtases; mas enganavam-se quando pensavam que haviam sido necessários objectos reais para os despertar; estavam longe de imaginar a que ponto eu sou capaz de me inflamar por seres imaginários."

Jean-Jacques Rousseau, Confissões, XI, 2.ª ed., trad. Fernando Lopes Graça, Lisboa: Portugália Editora, 1964, p+. 529-530. 

Sunday, July 16, 2017

MATRÍCULA


"A minha resposta era olhar para longe, às vezes enxergando pouco, mas colocar-me na posição que Pascal me havia ensinado ao ajoelhar perante Deus. Coleccionava mais flora nas cerejeiras, nos limoeiros, ameixas de Elvas, boas para bichos de fruta, roenroenroenroendo sem deixar nada, apenas a liberdade que me dizia: ainda bem que há fruta para bicho! O resto da minha ambição eu matriculava na paisagem."

Ruben A., O Mundo à Minha Procura, vol. III, Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1968, p. 46. 

Saturday, July 15, 2017

ANIVERSÁRIO



"A mulher imagina uma colmeia cheia de favos
Debruça-se à janela como a inclinação dos telhados

Como se os ninhos (como se os filhos ao pescoço) a vergassem"


Daniel Faria, Poesia, 2ª ed., ed. Vera Vouga, Lisboa: Assírio & Alvim, 2015, p. 323. 

Friday, July 14, 2017

VIA ERCOLE I



"Bastava, sei lá?, andar a passear ao longo do muro interminável que limitava o jardim do lado da Avenida Ercole I d'Este, muro interrompido a meio por um portão solene, de carvalho escuro, inteiramente desprovido de puxadores; ou então no outro lado, pela parte de cima, na Muralha dos Anjos sobranceira ao parque, penetrar com o olhar a selva intrincada dos troncos, dos ramos e das folhagens até aperceber o estranho e agudo perfil da moradia senhorial, e atrás dela, muito para lá, ao lado de uma clareira, a mancha cinzenta do campo de ténis: ei-la que surgia, a antiga irritação perante o desconhecimento, e a separação tornava a doer, a queimar quase como nos primeiros tempos."

Giorgio Bassani, O Jardim dos Finzi-Contini, trad. Egito Gonçalves, Lisboa: Quetzal, 2010, p. 25. 

NIPÓNICA



"Eu, vós que me ledes, compreendemos por exemplo o que seja colorir de azul um pedaço de tecido. Mas, o que é o azul? Por mais disparatada que vos pareça a novidade, dir-vos-ei que esta interrogação não tem resposta, a não ser que venha à baila o clássico espectro solar, e que apontemos para uma determinada faixa luminosa. O espírito japonês labora de tal maneira com a mãe-natureza, que não aceita esta noção; para ele, o azul, simplesmente o azul, não é nada, como não é nada o vermelho, ou o verde, ou o amarelo, ou o preto, ou o branco. Mas tem a impressão perfeita da cor das águas tranquilas, da cor das águas revoltas, da cor do céu depois da chuva; do mesmo modo vos falará, numa tecnologia estranha, adorável por vezes de ingenuidade, do branco beringela, do branco verde-de-peixe, da neve rosada, da neve flor-de-pessegueiro, da cor do mel, da chama enfumaçada, da cinza de prata, do verde-chá, do verde-caranguejo, do verde-camarão. do verde-cebola, do verde rebento-de-lótus. A culpa é só minha da deficiência dos termos que me acodem, se não conseguir assim revelar-vos que o japonês põe na ponta do seu pincel toda uma associação de reminiscências, de sensações, poderia dizer - a sua alma."

Wenceslau de Moraes, Traços do Extremo Oriente, Lisboa: Círculo de Leitores, 1974, p. 136. 

Wednesday, July 12, 2017

PERIPHRASIS



"A propósito de ratazanas, aí vai um preceito doméstico, que merece ser contado. 
Os chinas consideram o rato como o animal mais sagaz e pressentido. Nunca uma dona de casa dirá à sua criadinha: - «vai armar a ratoeira a ver se apanhas algum rato.» - Dirá: «vai armar a gaiola, a ver se apanha algum bicho de quatro pés.» - A razão é convincente: se indicasse o rato pelo seu verdadeiro nome, o finório, que tudo escuta, ficava inteirado do que se tramava contra ele; e não aparecia, é claro. 
Com as formigas, procede-se por uma forma análoga. Diz-se: - «esconde este pastel daquelas gulosas.» - Se alguém cometesse a imprudência de nomeá-las, era o bastante para que elas exclamassem entre si: - «olá, manas, temos mina!» e ei-las em legiões, à força de pesquisas, indo dar com o apetitoso pastel."


Wenceslau de Moraes, Traços do Extremo Oriente, Lisboa: Círculo de Leitores, 1974, p. 115. 

Tuesday, July 11, 2017

JULGAMENTO


"Outros e certos homens há sobre quais exerce a bondade uma sincera atracção, - não conseguindo eles, entanto, ser superiormente bondosos: melhores que os outros. Consequentemente criam uma espécie de máscara que grudam ao rosto, aos gestos, aos actos, e de que se revelam extremamente ciosos. Os bons observadores e psicólogos não abundam no mundo, cada vez mais cheio de distraídos. Os distraídos e os ingénuos ajudam esses mascarados a afivelarem a sua máscara, a defenderem-na, a cimentarem-na. Uma auréola de superior bondade passa então a rodear-lhes a cabeça - a ponto de crerem os próprios na justeza da sua reputação. Quem poderá saber se passaram e isto alguns canonizados, safos pelo tempo à nossa observação?"

José Régio, Confissão dum Homem Religioso, Lisboa: IN-CM. 2001, p. 153. 

Monday, July 10, 2017

OS SIMPLES


"O culto das imagens, que aos religiosos evoluídos de hoje parecerá anacrónico, ultrapassado, supersticioso, pagão, primitivo, decerto revelava (ou revela, porque ainda persiste nas gentes simples) um obscuro e atávico feiticismo. E nem por isso, e quem o não entende pouco entende das complexidades da vida religiosa profunda, era ou é vazio de verdadeira espiritualidade. Bem sabiam - bem no sabiam, embora aparentemente o esquecessem, esses veneradores ou veneradoras de imagens! - que elas não são senão imagens, retratos, evocações dos verdadeiros Seres vivos e transcendentes que «estão no céu». Digamos que servem de intermediários entre os pobres de nós e Esses."

José Régio, Confissão dum Homem Religioso, Lisboa: IN-CM. 2001, p. 68. 

Sunday, July 9, 2017

COROLA/ARCANO



"O cálice
acantoa um cálido delito.

Ademane ambíguo
fácil de integrar, atento.
Ímpeto maioritário
injetado de heroína
antónimo sensível, 

colónia e conhaque, 
impetigo. Ónus aliado e audaz. 
Conclui a delicadeza
o arcano carente."


Joaquim Manuel Magalhães, "Traço", in Um Toldo Vermelho, Lisboa: Relógio D'Água, 2010, p. 72. 

GEOMETRIA



"De que valem o certo e o regular?
E o chão liso, um tapete pra andar?
Não vou a passo - antes quero correr

És o fósforo e a chama
se quisesse fugia - prefiro arder"


João Habitualmente, Os Animais Antigos, Vila do Conde: objecto cardíaco, 2006, p. 46. 

Thursday, July 6, 2017

CONSTELAR



"Estava só junto às ondas, numa noite de estrelas. 
Nem uma nuvem nos céus, nem o mar velas. 
Meus olhos viam para além da realidade.
E os bosques, os montes, e toda a natureza, 
Pareciam falar num murmúrio de incerteza
                   Às ondas, à claridade."


Victor Hugo, Poemas, trad. Manuela Parreira da Silva, Lisboa: Assírio & Alvim, 2002, p. 15. 

Wednesday, July 5, 2017

ARCHÊ


"O bom do Mussard, verdadeiro filósofo prático, vivia sem cuidados, numa casa agradabilíssima que tinha mandado construir, e num lindíssimo jardim que tinha plantado por suas mãos. Ao fazer umas escavações assaz fundas no terreiro do jardim, encontrou umas conchas fósseis, e em tão grande quantidade que a sua imaginação exaltada só passou a ver conchas na natureza, acreditando por fim sinceramente que o universo não era senão conchas, fragmentos de conchas, e que a terra inteira não era mais que grés de conchas."

Jean-Jacques Rousseau, Confissões, VIII, 2.ª ed., trad. Fernando Lopes Graça, Lisboa: Portugália Editora, 1964, p. 361. 

Tuesday, July 4, 2017

AND I AM A WHITE SHIP HOOTING



"Esta é uma pequena ilha adormecida e pacífica, 
e eu um navio branco, clamando: Adeus, adeus.
O dia está em brasa. É deplorável. 
As flores neste quarto são vermelhas e tropicais. 
Viveram toda a sua vida protegidas pelo vidro, foram ternamente cuidadas. 
Enfrentam agora um inverno de lençóis brancos, faces brancas. 
Tenho muito pouco para meter na minha mala."


Sylvia Plath, Três Mulheres, trad. Ana Gabriela Macedo, Lisboa: Relógio D' Água, 2004, p. 43. 

Monday, July 3, 2017

AS OBRAS



"Demasiado sincero comigo mesmo, demasiado altivo interiormente para querer desmentir com as minhas obras os meus princípios, pus-me a ponderar o destino dos meus filhos, e as minhas relações com a mãe, as leis da natureza, da justiça e da razão, as daquela religião pura, santa, eterna como o seu autor, que os homens mancharam fingindo querer purificá-la, e de que apenas fizeram, com as suas fórmulas, uma religião de palavras, visto que pouco custa prescrever o impossível quando nos dispensamos de o praticar."


Jean-Jacques Rousseau, Confissões, VIII, 2.ª ed., trad. Fernando Lopes Graça, Lisboa: Portugália Editora, 1964, pp. 345-346. 

Sunday, July 2, 2017

UT EAM NULLA OCULORUM ACIES PENETRARE UALEAT



"Será excelente habitar aí, pois nem o verão é tórrido nem o inverno incómodo, mas prolonga-se incessantemente uma amena primavera; nem a noite é demasiado escura, pois há uma claridade luminosa e indefectível de estrelas no firmamento. 
Em contraste, porém, à sua volta, por toda a parte, seja dentro seja fora, há um manto de escuridão tão espessa de nuvens negras que não há olhar acutilante que nela seja capaz de penetrar a não ser que por consentimento divino haja alguma revelação."


Anónimo, Viagem de Trezenzónio ao Paraíso, na Ilha do Solstício, trad. e ed. Aires A. Nascimento, in Navegação de S. Brandão nas fontes portuguesas medievais, Lisboa: Edições Colibri, 1998, p. 229. 

Saturday, July 1, 2017

LES BEIGNEUSES



"... às vezes extravio-me, ao enfiar pela memória as ondas saem-me ao caminho."


Luís Miguel Nava, Poesia Completa, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2002, p. 69.