"Não tenho só um anjo
com asa estremecida:
embalam-me, tal como
ao mar as duas margens,
o Anjo que dá o gozo
e o que dá a agonia;
o de asas vacilantes
e o das asas fixas.
Eu sei, quando amanhece,
qual vai guiar-me o dia,
se o que tem cor de chama
ou o da cor da cinza
e entrego-me como alga
às ondas, resignada.
Só uma vez voaram
com as asas unidas;
no dia do amor,
no da Epifania.
untaram-se só numa
as asas inimigas
e ataram o nó
entre a morte e a vida!"
Gabriela Mistral, Antologia Poética, trad. Fernando Pinto do Amaral, Lisboa: Teorema, 2002, p. 51.