Friday, January 31, 2020

OBSCURO




"Há um comboio que chega devagar
ao rosto das palavras. 

não procures    meu amor     sinónimos secretos
do teu nome      ou dos gestos que
em janeiro largas sobre a toalha de linho
manchada de copos e garrafas vazias
enquanto ergo do chão vestígios de 
um corpo que te espera como no
primeiro dia

para o teu nome todos os sinónimos tão tristes
ou apenas inúteis    porque ninguém
te vai reconhecer no meio deles     e nenhum
te leva ao coração das palavra proibidas que
nasciam com o musgo das paredes da casa
no desolado frio de invernos em que
ao longe nos despedíamos para sempre

há um comboio que chega devagar
ao rosto das palavras em que    sem querer
entraste pelo lado errado    e delas desprende-se
um obscuro cheiro a quartos húmidos
camas desfeitas     ruas de cães vadios
e velhos sujos

e eu espero apenas um sinal
para começar a preparar a minha morte"


Alice Vieira, O Que Dói às Aves, 2.ª ed., Alfragide: Caminho, 2014, pp. 22-23. 

Thursday, January 30, 2020

ECRÃ


"Nos sentidos humanos, e em grau supremo na visão, encontramos os herdeiros naturais daquela duplicidade. Efectivamente, os nossos sentidos, a que os Estóicos chamavam anjos, são os nossos mensageiros, estão sempre a caminho de, no intervalo inapagável entre este lado e o outro. Desde cedo que a curiosidade humana submeteu a inquérito esses intermediários e criou dispositivos que reduplicavam os seus enigmas, sendo a invenção do espelho um dos mais férteis. Tensão equivalente que se demora entre o ecrã e aquilo que o ecrã esconde e deixa ver, deixa projectar, também aí o tempo espia e espera pelo seu detonador, o medo. Variação sobre o tema do espelho, o ecrã é uma das apresentações modernas da ambiguidade angélica do olhar."

Maria Filomena Molder, Rebuçados Venezianos, Lisboa: Relógio D'Água, 2016, p. 108.

Wednesday, January 29, 2020

HESITAÇÃO


"Nos tratados de angeologia, o anjo é o ser ambíguo, por excelência, e o primeiro anjo, o anjo primordial, consagra essa ambiguidade ao fazer-se portador do tempo. É no bater das asas do anjo, na breve hesitação que detém o seu movimento, que se anicha o tempo, é nesse intervalo que se engendram o tempo e o seu cortejo de ocultações, reflexões, vislumbres e sombras. Hesitação que tem a ver com o lado tenebroso do anjo, uma das suas asas, mas à qual devemos esse ínfimo sobressalto crítico, o lusco-fusco que permite o nascer do mundo."

 Maria Filomena Molder, Rebuçados Venezianos, Lisboa: Relógio D'Água, 2016, p. 108. 

Tuesday, January 28, 2020

CAIXA DE FERRAMENTAS



"Cite-se uma das famosas afirmações do Tractatus, em que se declara que o livro inteiro deve ser visto como uma escada, que serve para subir para um lugar, alcançado o qual se deita fora a escada. O horror pelas mediações - que conhece o seu limiar supremo na linguagem humana, a mediação convertida em sistema por excelência, e que suscita a Wittgenstein uma desconfiança desmedida, fazendo-o invariavelmente preferir não dizer a dizer - acha aqui uma das suas concretizações mais relevantes. Posteriormente, mesmo se, em larga medida, Wittgenstein vai continuar a preferir a imediatez às mediações, é igualmente inegável que irá transformar, para sempre, a relação entre a escada e o lugar aonde ela nos faz subir: se a natureza do lugar para onde se vai, uma vez alcançado, obriga a deixar a escada, então esse não é o lugar que lhe convém. Wittgenstein acaba de descobrir a beleza das mediações, da caixa de ferramentas: a escada é um instrumento e o lugar a que ela conduz não pode deixar de ser marcado por ela: a escada, mesmo que deite fora, está de algum modo guardada no lugar, é absorvida por ele. O lugar que Wittgenstein procura não é só um lugar para onde se sobre, é também um lugar de onde se pode sempre descer."

Maria Filomena Molder, Rebuçados Venezianos, Lisboa: Relógio D'Água, 2016, p. 93. 

Monday, January 27, 2020

PELOS CAMINHOS




"Há fadas e fadas e fadas. Cochicham, ronronam, como insectos impalpáveis, pelos caminhos da Terra estúpida. Eu sou uma delas. 
Também há anjos. Que o sensível leitor se convença: há, como na Idade Média, fadas e anjos, que isso foi a Idade Média: a Fada e o Anjo. E o Demónio. Mas não me alongarei de momento sobre o tema do anjo. Embora seja justo que, ao pensar fugazmente neles, copie aqui a frase que murmurei em inúmeras ocasiões: tudo mudou tanto!"


Manuel Mujica Lainez, O Unicórnio, trad. António Gonçalves, Lisboa: Cotovia, 1990, pp. 18-19. 

Sunday, January 26, 2020

HARMÓNICOS



"Qualquer obra de arte é a aplicação de um esforço, de interromper uma corrente, de fazer saltar, estilhaçar, uma ligação, um vínculo, em vista de os exprimir. Qualquer obra de arte é também uma resistência à tentação de ser arrastado, de se deixar adormecer na neve, uma resistência ao prazer de continuar a ouvir os harmónicos perfeitos, para os obrigar a ressoar."

Maria Filomena Molder, Rebuçados Venezianos, Lisboa: Relógio D'Água, 2016, p. 25. 

Saturday, January 25, 2020

FINGEM




"Desce a paz com a música dos sinos, 
Tal pingos d'óleo sobre a água lisa,
E as sete luzes que, em suspeita irisa
O céu, se apagam. Correm desatinos

No sumiço das árvores. A brisa
Endoida os fumos que, das casas, finos, 
Fingem no ar gigantes e meninos, 
Asas e mãos, que a noite inutiliza. 

Depois, cerra-se, vão, o azul de em volta, 
Que tudo esmaia. Só as estrelas tolhem, 
Como furos, no véu que encobre tudo...

Murcham os braços. Cessa o ventre, Mudo, 
Cala-se o esgar de lúbrica revolta
Na árvore em que os pássaros recolhem."


António Pedro, Antologia Poética, Braga-Coimbra: Angelus Novus, 1999, p. 59. 

Thursday, January 23, 2020

QUEBRADO



"Contudo, todas estas codificações se inscrevem sobre um fundo de melancolia, que é o da convicção de que o essencial num rosto é o que nele aparece como o resto das gramáticas: o seu sentido indefinível, a sua nota única, o timbre da sua voz interior, a afirmação de um ser insubstituível. E na sequência desta descoberta patética, que desarruma todas as classificações, existem as dimensões ferozes em que os rostos se desfazem: rosto desfeito pelo grito, rosto desfeito pelo sangue, rosto desfeito pelo prazer, rosto desfeito pela dor, rosto desfeito pela animalidade, rosto desfeito pela morte, rosto fechado pelo silêncio, rosto quebrado pela paralisia. É a isto que um Didi-Huberman chama «a voracidade do rosto»: o modo como ele a si próprio se devora.Talvez o erotismo seja acima de tudo o grau de voracidade de um rosto." 

Eduardo Prado Coelho, Tudo o que não escrevi - Diário II, Porto: Edições Asa, 1994, p. 387. 

Wednesday, January 22, 2020

TORRENTE




"Segreda a ampulheta à pata do leão, 
Dizem os sinos aos jardins sempre a tocar,
Quantos erros pode o Tempo tolerar, 
Quanto erram eles em terem sempre razão. 

Por mais alto, porém, que o Tempo badale, 
Por mais que corra sua impetuosa torrente, 
Nunca ao leão provocou um só abalo, 
Nem tão-pouco assustou a rosa impertinente. 

Porque eles, parece, só veneram a vitória; 
Enquanto nós escolhemos os nomes pelo som
E os problemas julgamo-los pela complexidade. 


W.H. Auden, Outro Tempo, trad. Margarida Vale de Gato, Lisboa: Relógio D'Água, 2003, p. 67. 

Tuesday, January 21, 2020

FíMBRIAS



"Há aliás um notável confronto entre a visão e a escuta. De certo modo, a insistência no ver, o trabalho da atenção, fazem que o ver se limpe e depure a ponto de se transbordar em mero som. Não o som das coisas agitadas. Mas um som feito de sinais e pressentimento: estalidos, crepitações. E depois este som de franjas e fímbrias devolve-nos o real envolvido pelo brilho da sua luz mais pura."

Eduardo Prado Coelho, Tudo o que não escrevi - Diário II, Porto: Edições Asa, 1994, p. 57. 

Monday, January 20, 2020

DOS MILAGRES - FOGO


"- O Sol é feito de fogo e de sal, e fogo e de sal é feito - suspirou a mulher. - Mas aquele que é livre apagou o fogo e derreteu o sal; já não terá lugar a matéria. Oh, como eu desejo esquecer-me!"


Agustina Bessa-Luís, "A Mãe de um Rio", in A Brusca, 2.ª ed., Lisboa: Guimarães Editores, 1984, p. 114. 

Sunday, January 19, 2020

REGRESSOS



"Daí que os mortos regressem, mas sem alvoroço. Regressam como quem regressa ao fim da tarde, e tudo se passa numa espécie de paisagem rural de sinos e lareiras. Ou, às vezes, nas ruas amaciadas da cidade - mas como se o ruído se tivesse retirado, e ficasse apenas o pacífico contorno das imagens."

Eduardo Prado Coelho, Tudo o que não escrevi - Diário II, Porto: Edições Asa, 1994, p. 57. 

Saturday, January 18, 2020

AS FINALIDADES



"Ela era a guarda de um rio que brotava no fundo duma cova, e existia ali há mil anos, sempre acordada, e a ver levantar o bando negro de gralhas cada vez que ela dizia algumas palavras. O facto de ela viver mil anos não tinha também nada de extraordinário. O tempo, para ela, não era consumido numa finalidade, ela não tinha filhos que crescessem, nem campos que semear; não contava as voltas da Lua, nem seguia com demasiada atenção a passagem das estações. Isto permitia-lhe viver interminavelmente."

Agustina Bessa-Luís, "A Mãe de um Rio", in A Brusca, 2.ª ed., Lisboa: Guimarães Editores, 1984, p. 108. 

Friday, January 17, 2020

A ÚNICA SOLIDÃO



"Antigamente, sim, antigamente, a Terra tinha a forma quadrada, e um rio de fogo corria na superfície. Não havia aves nem plantas, as águas estavam nos ares como nevoeiros cor de ferro, e os ventos não as tinham distribuído ainda pelos quatro cantos agudos da Terra. Onde estava o peixe minúsculo de ventre negro, ou as bonitas serpentes de escamas verdes? Não existia o trigo nem a mão humana, nem mesmo o sono ou a dificuldade, que foi o segundo grito da criação. Passamos hoje por um caminho que tem nele marcado outras pegadas, e ocorrem-nos as histórias doutras idades. Por deserto que esteja o campo e frio o sol, o tempo está presente e nos penetra de sabedoria e de fortaleza. A única solidão é aquela que não tem passado."

Agustina Bessa-Luís, "A Mãe de um Rio", in A Brusca, 2.ª ed., Lisboa: Guimarães Editores, 1984, p. 107. 

Thursday, January 16, 2020

AS PARTES



"Por outro lado, no grego de Homero e Hesíodo são em especial os joelhos, opostos à cabeça ou a outras partes do corpo, que servem para indicar a totalidade corpórea de um homem. É patente que não se via neles uma parte qualquer do corpo, mas a fundamental, a sede original das forças mais decisivas e primigénias do corpo e da alma."

Eduardo Gil Bera, História das Más Ideias, trad. Manuel Ruas, Lisboa: Teorema, 2003, p. 93. 

Wednesday, January 15, 2020

EX CATHEDRA




"O poeta é o mais concentrado expoente da "tolerância zero": a vingança é o seu imperativo, e a sua tábua da lei tem um único mandamento que diz "eu" - se bem que, por vezes, se alongue um pouco."

Eduardo Gil Bera, História das Más Ideias, trad. Manuel Ruas, Lisboa: Teorema, 2003, p. 65. 

Tuesday, January 14, 2020

CAPACIDADE



"A haver alguma inovação na condição humana, algum indício de superhomem com atribuições efectivas mais além do bem e do mal, teria de ser com o advento de uma variedade dotada de maior capacidade de ter medo. Conseguiria, sem dúvida, realizações insuspeitadas. Talvez a sua chegada pareça iminente a algum optimista, mas é coisa de que não há o mínimo vestígio desde a última glaciação até hoje."

Eduardo Gil Bera, História das Más Ideias, trad. Manuel Ruas, Lisboa: Teorema, 2003, p. 24. 

Sunday, January 12, 2020

ARGUMENTUM




"L' homme fuit l'asphyxie.
L' homme dont l'appétit hors de l'imagination se calfeutre sans finir de s'approvisioner, se délivrera par les mains, rivières soudainement grossies. 
L'homme qui s'épointe dans la prémonition, qui déboise son silence intérieur et le répartir en théâtres, ce second c'est le faiseur de pain.
Aux uns la prison et la mort. Aux autres la transhumance du Verbe."


René Char, Fureur et mystère, Paris: Gallimard, 2006, p. 19. 

Saturday, January 11, 2020

INTERROGAÇÃO




"Mas como é que falastes? Porventura, do mesmo modo como quando se ouviu de entre a nuvem a voz que dizia «Este é o meu Filho predilecto?»"


Santo Agostinho, Confissões, XI (6), trad. Lúcio Craveiro da Silva, 13ª ed., Braga: Livraria A.I., 1999, p. 273. 

Thursday, January 9, 2020

A PRECE




"Pai nosso que estás no céu
Cheio de toda a espécie de problemas
Com o cenho franzido
Como se fosses homem vulgar e corrente
Não penses mais em nós. 

Compreendemos que sofres
Por seres incapaz de compores as coisas. 
Sabemos que o Demónio não te deixa em paz
Desconstruindo o que tu constróis. 

Ele ri-se de ti
Mas nós choramos contigo:
Não ligues aos seus risos diabólicos. 

Pai nosso que estás onde estás
Cercado dos anjos desleais
A sério: não sofras mais por nós
Tens de aceitar
Que os deuses não são infalíveis
E que nós perdoamos tudo."


Nicanor Parra, Acho que Vou Morrer de Poesia, sel. e trad. Miguel Filipe Mochila, Lisboa: Língua Morta, 2019, p. 82. 

Wednesday, January 8, 2020

CONSTÂNCIA



"Em nada podemos estar mais firmes, pois vivemos no meio de mil revoluções diversas: as idades e a fortuna continuamente combatem a nossa constância; tudo consiste em representação que começa, não para existir, mas para acabar; menos para ser, que para ter sido. Vimos ao mundo a mostrar-nos, e a fazer parte da diversidade dele; as coisas parece que nos vão fugindo, até que nós vimos a desaparecer também."

Matias Aires, Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens, São Paulo: Livraria Martins Editora, 1966, p. 104. 

Monday, January 6, 2020

REAIS




"Comme Dieu ne fait rien que par le simple bergère, 
Il fallut qu'elle vit la discorde civile
Secouer son flambeau sur les toits de la ville
Et joindre sa fureur à la guerre étrangère;

Il fallut qu'elle vit l'horrible harengère
Haranguer le bas peuple et la tourbe servile, 
Et de la halle au blé jusqu'à l'hôtel de ville
Refluer le hoquet de l'odieuse mégère:

Pour qu'elle vît venir merveilleuse et légère, 
Par les chemins de ronce et fer frêle fougère, 
Pliant ses beaux drapeaux comme une humble lingère; 

Gouvernant sa bataille en bonne ménagère, 
Traînant les trois Vertus dans quelque fourragère. 
Vers l'antique vaisseau la jeune passagère."


Charles Péguy, Les Tapisseries, Paris: Gallimard, 1968, p. 46. 

Sunday, January 5, 2020

CAMPOS




"Los árboles conservan
verdes aún las copas, 
pero el verde mustio
de las marchitas frondas. 
El agua de la fuente, 
sobre la piedra tosca
y de verdín cubierta, 
resbala silenciosa.
Arrastra el viento algunas
amarillentas hojas.
El viento de la tarde
sobre la tierra en sombra!"


Antonio Machado, Poesías Completas, Madrid: Austral Poesia, 2007, p. 140. 

ASAS



"- Estou abandonado... Tenho a permanente impressão de estar abandonado. Isto não é a Terra;  é um planeta longínquo. Um planeta onde se vive sempre só. Podes imaginar isto?! Isto de querer umas asas para voar. Era voar para a Terra, que eu queria. Mas estou sempre só... num planeta diferente... monstruoso... repleto de monstruosas coisas, demasiado horríveis para serem para mim compreensíveis. E é acabrunhante isto, de ser um estranho... eternamente estranho..."

Agustina Bessa-Luís, Deuses de Barro, 2.ª Ed., Lisboa: Relógio d'Água, 2019, p. 69. 

Friday, January 3, 2020

PERTENÇA


"- Ouve lá!...Que Deus é o teu, o vosso, o de toda essa gente insensata? Diz... Que Moloch sangrento adorais? Que vingativo Senhor, o das chuvas candentes, das proibições absurdas, dos flagelos infindáveis, que vos domina pelo terror? Criais os vossos deuses à semelhança das vossas ambições. São deuses de barro, do vosso barro de desespero, raiva, despeito, amor, suavidade e rancores. Rendeis homenagem ao Deus Universal e Único, mas dentro de cada um de vós há altar erguido ao Deus particular ao qual vossa alma presta um particular culto."

Agustina Bessa-Luís, Deuses de Barro, 2.ª Ed., Lisboa: Relógio d'Água, 2019, p. 67. 

Thursday, January 2, 2020

INDEBELÁVEL



"- Minha tolinha... Oh, minha tolinha... - beijou-lhe as palmas das mãos, uma de cada vez, delicadamente; beijou-lhe dois cravos do dedo anular; e até sorriu para eles. Sim salto, transpunha barreiras que o espaço de horas inexplicavelmente cara.
- Não chores... Olha... Não chores... Há tanta gente que chora!! Rios, mares, oceanos de lágrimas. E nada a fazer... nada... Isto, sim, que é triste!!! A dor é uma epidemia eterna;uma terrível e colossal epidemia, duas vezes horrível por ser indebelável, porque sem piedade os vem corroendo, porque sem esperança as gerações irá despedaçando."


Agustina Bessa-Luís, Deuses de Barro, 2.ª Ed., Lisboa: Relógio d'Água, 2019, p. 65.

Wednesday, January 1, 2020

QUAE SUNT, QUAE ERUNT QUAEQUE FUERINT



"Sublimados, portanto, no seu excelso observatório, referindo à medida do eterno as coisas que são, que serão e que foram, observando nelas a beleza original, seremos, como vates apolíneos, os amadores alados até que num inefável amor, como invadidos por um estro, postos fora de nós e cheios de Deus como Serafins ardentes, já não seremos mais nós próprios, mas Aquele mesmo que nos fez."

Pico Della Mirandola, Discurso sobre a Dignidade do Homem, trad. Maria de Lurdes Sirgado Ganho, Ed.70/RBA Editores, 1995, p. 65.