Tuesday, September 29, 2020

FIRMEZA

 



"Então toda a criatura humana passará pela prova de fogo, e muitos ficarão escandalizados e perecerão. No entanto, aqueles que permanecerem firmes na fé serão salvos por Aquele que os outros amaldiçoam."

Didaqué, s. trad., Lisboa: Paulus, 2013, XVI-5, p. 46. 

Monday, September 28, 2020

DESÍGNIO

 



"Tudo quanto é marcha e desígnio das criaturas é uma bandeira; tudo é bandeira no céu e na terra, desde que tenha como conselho a morte, mas a morte compreendida como coisa que nos é dada para viver ainda, como juízo perpétuo dos nossos dias."


Agustina Bessa-Luís, O Sermão do Fogo, 3.ª ed., Lisboa: Relógio D'Água, 2019, pp. 85-86. 

Sunday, September 27, 2020

NA ESTALAGEM DOS PODEROSOS

 


"Na Estalagem dos Poderosos não há esperança de acordar de manhã sem que tenhamos uma campainha a retinir, um locutor que se dirige a nós e nos explana a ordem do dia, dizendo-nos  a temperatura que devemos conservar no corpo, a ideia que temos de vingar no cérebro, os produtos que são indicados para o nosso peso e estatura, a carreira que deveremos seguir, os factos, que são dignos de aplauso ou de repulsa."


Agustina Bessa-Luís, O Sermão do Fogo, 3.ª ed., Lisboa: Relógio D'Água, 2019, p. 62. 

Saturday, September 26, 2020

TODO O POETA



"Todos os meus papéis se perderam nas mãos de uma criança. 

Versos que dariam obras-primas e algumas prebendas mais,
artigos dispersos, introduções e prefácios a poetas geniais, 
colectâneas de inéditos com garantia de inesgotáveis créditos, 
romances que são do melhor que se fez neste país de aridez, 
além de abundantes dados dos meus tempos dourados, 
cartas de amigos e inimigos, bilhetinhos trémulos e efémeros, 
e outros papéis perdidos sem glória que me deixaram na penúria. 

Os filhos são perigosos dentro de casa porque tudo nos arrasam. 
Na fogueira ou na banheira, tudo se vai com alegria e brincadeira, 
e às vezes penso que é nos seus prazeres que a verdade se esconde.
Quando não cumprem os deveres, sabem por exemplo onde
procurar a verdade e brincar com a verdade de maneira profunda, 
que confesso desconhecer nesta minha vida perfeitamente redonda
que eles não querem sequer jogar à bola quando chegam da escola.

Todo o poeta deveria ter papéis à sua volta com crianças à solta, 
porque o poema destroçado é a voz da verdade que nenhum poeta
pode exprimir nos seus versos de forma original e completa. 
Hoje agradeço à minha criança o bem que fez pela minha obra
e todos os dias lhe peço que leia os meus versos e lhes faça justiça. 
A minha criança ainda não sabe ler mas de vez em quando esquissa
um poema colorido que põe no sítio preciso do seu poema destruído."


Luís Adriano Carlos, Torpor, Porto: Porto Editora, 2020, p. 14. 

Friday, September 25, 2020

INSIGNIFICÂNCIA

 



"Quando se extrai uma surpresa duma insignificância, isso equivale a receber uma lição gratuita aparentemente, mas em cujo acaso não se acredita. Tal é a alma do homem - duvida sempre da simplicidade dos factos sucedidos no âmbito do seu próprio ser; o natural não acontece senão no reino bruto, a razão não nos incita ao que é natural, mas ao que é possível."

Agustina Bessa-Luís, O Sermão do Fogo, 3.ª ed., Lisboa: Relógio D'Água, 2019, p. 11. 

Thursday, September 24, 2020

LA DE LOS DOS HERMANOS

 



"Mas a vozinha ripostou:
- Fazes troça de nós porque estás numa capela, mas vem cá para fora...
- Vou já, - respondi-lhes imediatamente. 
Fui buscar a espada e quis sair, mas a porta não cedeu. Disse-o aos fantasmas, mas eles calaram-se. Deitei-me e dormi até ao dia seguinte."


Jan Potocky, Manuscrito de Saragoça, trad. Dórdio Guimarães, Torres Vedras: Tertúlia do Livro, s.d., p. 49. 

Tuesday, September 22, 2020

OUTONO

 


"Assim acontecerá também com a ressurreição dos mortos. Enterra-se um corpo mortal, e ressuscita imortal. Enterra-se um corpo sem beleza, e ressuscita cheio de esplendor; enterra-se um corpo fraco e ressuscita forte. Enterra-se um simples corpo humano e aparece depois um corpo cheio de vida nova, dada pelo Espírito."

1 Cor. 15, 42-44. 

Monday, September 21, 2020

A LINHA DO DEVER (para o Divino Michael Lonsdale)


"Gebo: O que é preciso saber nas grandes ocasiões é cada um saber qual é o seu dever. Aqui é que está a verdade. E depois cumpri-lo sem uma hesitação, ouviste? É a isto que se chama a linha do dever. Eu estou inutilizado. Sou menos que nada. Morrer? Morrer é fácil, o que eu tenho é obrigação de me sacrificar. Eu cumpri sempre o meu dever na Companhia e na praça. Às vezes o dever é amargo, o dever é duro, mas o homem só se diferencia dos bichos em cumprir o seu dever. Tu ouves?"


Raul Brandão, O Gebo e a Sombra, Mem Martins: Publicações Europa-América, 1991, p. 82. 

Sunday, September 20, 2020

AVENTURA

 



"Em suma, o homem que se exprime só nos fala verdadeiramente se nos confia a sua aventura através da vida e se no-la sabe confiar. A sua aventura espiritual, entenda-se. Nada que não seja isso. Que importa o que nos vai acontecer?"

Elie Faure, Função do Cinema e das Outras Artes, trad. Maria da Conceição Nobre, Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2010, p. 46. 

Saturday, September 19, 2020

FUMOS

 



"Nem sempre ao nascer do dia nasce um novo dia, 
nada mais certo do que os fumos desta minha incerteza:
dentro de mim um deserto e um eremita que reza
ao sol do meio-dia quando o calor me esvazia."


Luís Adriano Carlos, Torpor, Porto: Porto Editora, 2020, p. 33. 

Friday, September 18, 2020

AUSÊNCIA




"Há aqui um castelo, situado no íntimo do bosque, onde mora uma mui triste Senhora chamada Ausência. Quase nunca se vê, tem sempre os olhos cheios de lágrimas e, por consequência, se acha mui abatida e disfigurada: veste sempre luto e acompanha-se sempre da Imaginação que também é muito magra. Os seus olhos jamais se fixam em um só objecto, veem tudo e nada veem."


Francisco Xavier de Oliveira, Viagem à Ilha do Amor, ed. Vanda Anastácio, Porto: Caixotim Edições, 2001, p. 16. 

Thursday, September 17, 2020

METÁFORA


 

"Toda a metáfora nos contém: de nós é feita
em um pedaço e nada mais. Como
se fôssemos tragados pela força
de seu poder desnudo e
de nós morrêssemos de súbito. 

Toda a metáfora nos sustém / onde
não estamos como se
estivéssemos. Sempre
nos guarda a margem a que falta o rio
para nos banharmos. E, além, 

muito além de para lá, talvez
outros nos banhemos em 
um rio sem a margem. Toda
a metáfora nos mantém
um pouco aquém
dela e de ninguém."


Luís Adriano Carlos, Torpor, Porto: Porto Editora, 2020, p. 41. 

Wednesday, September 16, 2020

DISCÍPULO

 


"Morgan possuía as habituais qualidades de uma criança de vida não simplificada com o colégio, uma espécie de sensibilidade confinada ao conforto caseiro que talvez fosse prejudicial mas encantava, e toda uma gama de requintes e sensibilidades - pequenas variações musicais tão cativantes como uma melodia que nos persegue, aqui e ali ouvida - geradas com as suas deambulações pela Europa na cauda daquela migradora tribo. Talvez se não tratasse de uma educação desde logo recomendável; mas, sobre uma pessoa tão especial, os seus resultados tinham marcas de uma fina porcelana. Havia ao mesmo tempo nele um leve resquício de estoicismo que era fruto, sem dúvida, de ter desde muito cedo começado a sofrer, e isso contar como um impulso e com menos consequências do que se ele tivesse passado numa escola por um animalzinho poliglota."

Henry James, Preceptores - O Discípulo, trad. Aníbal Fernandes, Lisboa: Sistema Solar, 2017, p. 133. 

Monday, September 14, 2020

CHAMAS

 



Mlle de Bergerac abanou a cabeça. 
- Parece-me duro, visconde, ser eu a responsável pela vossa felicidade - disse ela.
- Tendes essa felicidade nas vossas mãos. Pensai no que eu sofro. Ter vivido durante semanas com a esperança desta hora, e encontrar-vos nela disposta a ceder! Ter sonhado uma embriagadora felicidade, e encontrar uma hedionda miséria! Voltai uma vez mais a pensar nisto!"


Henry James, Preceptores - Gabrielle de Bergerac, trad. Aníbal Fernandes, Lisboa: Sistema Solar, 2017, p. 104. 

Sunday, September 13, 2020

DANGER

 



"- Oh! - disse Coquelin. - Não estou de acordo convosco. 
- Não acreditais que neste mundo tudo é vão, fugaz e transitório?
- De forma nenhuma; eu acredita na permanência de muitas coisas. 
- De quais, por exemplo?
- Bem, dos sentimentos e das paixões. 
- Sim, sem dúvida. Mas não dos corações que os sentem. Os apaixonados morrem, embora o amor sobreviva. Ouvi o fidalgo dizê-lo em Chalais. 
- É melhor que seja assim e não ao contrário. Mas os apaixonados também duram. Sobrevivem; vivem mais do que as coisas... a indiferença, a recusa, o desespero que de bom grado os destroem.
- Mas entretanto o objecto amado desaparece. Quando não acontece isso a um, acontece ao outro. 
- Oh, admito que o mundo é inconstante. Mas tenho a tal respeito uma filosofia. 
- Sinto curiosidade em conhecer a vossa filosofia. 
- Tem muitos anos. É, muito simplesmente, tirarmos o melhor partido da vida enquanto ela dura. Gosto muito de viver - disse Coquelin a rir-se."


Henry James, Preceptores - Gabrielle de Bergerac, trad. Aníbal Fernandes, Lisboa: Sistema Solar, 2017, p. 74. 

Saturday, September 12, 2020

UM SONHO



"Esta noite sonhei que deus
era cantar
mas deus é a criança
beijo-lhe a língua e depois
a pólvora
e a noite grita em fogo
até ao mar. 
Vejo a criança na água moribunda
da fala que a desfaz
em pérolas de sangue, ó rima!, 
em gotas de luar."


Armando Silva Carvalho, Canis Dei, Lisboa: Relógio D'Água, 1995, p. 52.

Friday, September 11, 2020

O COMEÇO DA LUZ

 




"Fernando - Passemos adiante e demos mais Luz a esta obra, e não deixei de referir e lembrar-me o que em as outras vezes tratámos. 

Brás Pereira - Oh, não quero, Fernando. Basta o que lembrado tenho. Procedei vós adiante e pois tocastes na luz, comecemos pelos olhos, porque deles tem começo toda a luz, e eles são as janelas e portas por onde tudo tem a entrada."


Francisco de Holanda, Do Tirar pelo Natural, ed. Raphael Fonseca, Lisboa: Documenta, 2019, p. 51. 

Thursday, September 10, 2020

ÀS MONTANHAS DA TRÁCIA

 



"Quando falo que deus é uma criança
que o vento
envelheceu nas minhas veias
eu faço-me subir rei reformado às montanhas
da Trácia
onde nunca estive. 
Não há trégua possível entre
os meus vícios. 
Não há mão maternal ou asa de anjo
nã há sol nem lua
disponíveis 
para me guiarem o curso dos
sentidos.
Renuncio a esta caça
nas artérias
e só depois à curva ao arco
do triunfo
a esta castidade ameaçada. 
Nem o vento envelhece, nem mesmo tu, 
criança que deliro, 
irás morrer comigo enquanto
canto
no outono da Trácia, ridícula, imaginada."


Armando Silva Carvalho, Canis Dei, Lisboa: Relógio D'Água, 1995, p. 53. 

Wednesday, September 9, 2020

DORMIR NA VIDA

 



"Quisera ser cego, cego
Como noite sem luar!
Ter olhos - por meu sossego - 
sem saber, contudo, olhar. 

Deitar-me a dormir na Vida
e a Vida deixar-me estar...

Deitei-me a dormir na Vida
E a Vida deixou-me estar.
Mas eu tinha o sono leve...
Sentia-a sempre passar!"


Os Poemas de Álvaro Feijó, Castelo Branco: evoramons, 2005, p. 34. 

Tuesday, September 8, 2020

ATREVIMENTO

 



"Humildes são as plantas, mais atrevidas as aves, mais atrevidas ainda as nuvens dos ares e as estrelas dos céus. Quanto maior é o seu atrevimento, mais longe se levam. 
O homem que vive cá neste mundo extremo de todos, sem querer deixar rasto de si, nem coisa alguma que o lembre, passada a sua hora, é como a planta, lançada à terra pela mão de Deus. Nasce, medra e morre; deitam-lhe a foice e fica por terra."


Rodrigo Paganino, Contos do Tio Joaquim, Lisboa: Editora Planeta DeAgostini, 2005. p. 160. 

Monday, September 7, 2020

ACONCHEGAR

 



"Trabalho aqui os nomes, as reais qualidades
soltas do teu corpo. 
A pequenina voz que me arrepiava
os nervos:
traz-me um copo de água, 
aconchega-me a alma com os milagres da terra, 
deixa-me olhar a esplendorosa visão 
da luz litúrgica, 
é Deus que se encaminha para a nossa casa, 
não  vês?
Ele é o Senhor desse ofício de treva
à minha cabeceira."


Armando Silva Carvalho, De Amore, Lisboa: Assírio & Alvim, 2012, p. 67. 

Sunday, September 6, 2020

AUTOBIOGRAFIA

 


"A natureza com as suas grandezas todas, a flor com o seu aroma e cores, a ave com o seu cantar, o céu com as suas estrelas, e o mar com as suas ondas de prata, têm sido harmonias perdidas, que só falam do acaso e que nada mais me fazem lembrar. Tenho cerrado os olhos à luz e a alma à razão. Não tenho procurado coisa alguma no passado nem esperado do futuro."


Rodrigo Paganino, Contos do Tio Joaquim, Lisboa: Editora Planeta DeAgostini, 2005. p. 32. 

Saturday, September 5, 2020

TODA A ESCURIDADE

 


"Esta terra é muito perigosa de trovoadas principalmente no mês de Maio que acerta dia muito sereno em que vem toda a escuridade do mundo e cai mui grande pedra, pedras que são delas tamanhas como ovos de pássara, e cai tanta, e em tanta quantidade, que no lugar onde cai destrói [os] pães dos agros e todas as árvores e todas as vinhas, e onde acerta leva ramo ao chão. E estas trovoadas não vêm senão no Verão e cai com elas muitos raios e coriscos, que matam gente, e acerca em castanheiro que o queima até ao chão e não dura senão uma hora, hora e meia, e quando dura dura duas horas é muito e ela passada fica o tempo sereno como quem não chovera."


Rui Fernandes, Descrição do Terreno ao redor de Lamego duas léguas [1531-1532], ed. Amândio Barros, Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2012, p. 63. 

Friday, September 4, 2020

EYES WIDE SHUT

 



" - Que é que devemos fazer, Albertine?
Ela sorriu, hesitou por instantes, depois respondeu: 
- Acho que devemos estar gratos ao destino por termos saído ilesos dessas aventuras - tanto as reais como as que sonhámos. 
- Tens a certeza disso? - interrogou ele. 
- Sim, como também tenho a certeza que não é a realidade de uma única noite, nem a de toda uma vida que corresponde à verdade intrínseca de um ser humano. 
- Nem sonho algum - suspirou ele calmamente, - é inteiramente sonho. 
Albertine segurou-lhe a cabeça com ambas as mãos e encostou-a ao seu seio. 
- Agora estamos plenamente acordados - observou ela - por muito tempo. 
«Para sempre», quis ele acrescentar. Mas antes que articulasse uma palavra, ela colocou-lhe um dedo sobre os lábios e murmurou como que para si própria: 
- Nunca se deve averiguar o futuro."


Arthur Schnitzler, A História de Um Sonho, trad. Maria Paula Couto, Lisboa: Relógio D'Água, 2001, p. 117. 

Thursday, September 3, 2020

DA JANELA

 



"Fridolin soltou a mão dela, desagradado. 
- E se, nessa noite - observou - outra pessoa qualquer se tivesse aproximado da tua janela, e tivesse proferido a palavra certa, por exemplo...
Fridolin procurava a expressão adequada, mas ela estendeu o braço num gesto de protesto. 
- Quem quer que tivesse vindo, podia ter dito o que lhe viesse à cabeça, que pouco lhe adiantaria. Se não tivesses sido tu a aproximar-te da minha janela, - continuou Albertine -  aquela noite de Verão não teria sido tão bela.
Fridolin torceu os lábios num sorriso escarninho. 
- Isso é o que dizes agora. Hoje, até podes acreditar nisso. Mas..."


Arthur Schnitzler, A História de Um Sonho, trad. Maria Paula Couto, Lisboa: Relógio D'Água, 2001, p. 16. 

Wednesday, September 2, 2020

DÉCIMO SEGUNDO ANO

 


"Encosto-me à morte sem amparo ou sombra
Como o grão
Abeiro-me da flor que virá e venho
À superfície do teu sonho

Como se acordasse a mão que semeia
No coração lavrado de quem faz a ceifa
Rebento no interior da morte como o trigo

Rebento no interior do trigo
E de qualquer planta que se assemelhe a ti"


Daniel Faria, Poesia, 2.ª ed., ed. Vera Vouga, Lisboa: Assírio & Alvim, 2015, p. 42. 


Tuesday, September 1, 2020

A VASTIDÃO INCULTA E INABITADA

 



"Olhos, olhai em frente!

E convencer-se a gente 
de que tudo o que fica para trás
serve, apenas, de ponto de partida
e nada mais!
São ruínas e as ruínas
lembram as coisas que foram
e já não são. 
Mas em frente 
há a vastidão inculta e inabitada, 
a vastidão que espera e que deseja 
alguém. 

Em frente!... O que não é
mas que devia ser
por nossas mãos!

Olhos, olhai em frente!

Atrás de nós
há Sodomas inúteis
e Gomorras em brasa!"


Os Poemas de Álvaro Feijó, Castelo Branco: evoramons, 2005, p. 96.