Sunday, September 30, 2018

PEDAÇO DE CÉU



"Levantou-se e dirigiu-se ao mulo, que por ali pastava sossegado a pensar noutras missas. De um dos alforges sacou uns pergaminhos escrevinhados e cheios de chancelas, sinetes e lacres, testemunhando que eram papéis sérios e de valor. Voltou depois para nós altaneiro, animado e efusivo: - Tenho aqui, meus senhores, a solução para todos os vossos tormentos. Isto que aqui vedes nas minhas mãos é um pedaço de céu, que vosso pode ser e que vos aguarda; e mais, se vós do inferno e da suas eternas labaredas vos quereis salvar, podeis também um testamento fazer, que para isso também fui ordenado e instruído, para que, deixando os vossos bens à santa igreja, possais para todo o sempre usufruir da companhia do todo-poderoso, Deus Nosso Senhor e de Jesus Cristo, à sua direita sentado. Que tendes a dizer sobre estas maravilhas, eu sou a vossa salvação!
Acabou o onzeneiro bulista a parlapatice com uma benzedura, mais papista que o papa, e voltou às azeitonas, que apesar do jactante relambório continuavam pretas e frescas."


Paulo Moreiras, A Demanda de D. Fuas Bragatela, Lisboa: Temas e Debates, 2002, pp. 158-159. 

Saturday, September 29, 2018

MIKHAEL



"Como ao terror do Inferno
Sucedeu
O horror do Nada!
A inquietação moderna,
A antevisão
Da cósmica catástrofe, 
Prometida
Por sábios e teólogos
Apocalípticos. 
Divino Orfeu, vem tu salvar-nos. 
Tange, de novo, a lira!
Amansa as feras. 
Que o teu cantar volatilize
A estátua em bronze do deus Marte!
E esculpa, em oiro amanhecente, 
Sobre o mais alto 
Píncaro do mundo, 
O Anjo simbólico 
Da Paz."


Teixeira de Pascoaes, Últimos Versos, in Obras Completas de Teixeira de Pascoaes, vol. VI, Amadora: Livraria Bertrand, s.d. p. 167. 

Friday, September 28, 2018

AS LINHAS


"- Retomai a sagrada e sublime obra empreendida e conduzi-la à máxima perfeição! Reuni as leis que a Natureza elaborou para nos dirigir e formai com elas o autêntico e imutável código. Mas, que essa obra admirável não vá beneficiar apenas uma única nação, uma só família; que seja para todas sem excepções! Sêde o legislador de todo o género humano como sois o intérprete da Natureza! Traçai a linha que separa o mundo das quimeras do das realidades e ensinai-nos, depois de tantas religiões, depois de tantos erros, a religião da evidência e da verdade!"

Conde de Volney, As Ruínas de Palmira, trad. Francisco Quintal, Lisboa: Livraria Renascença, s.d., p. 217. 

Thursday, September 27, 2018

DESCALÇOS


"O exaltado de Deus baixou a cabeça para a terra e disse por entre muitas lágrimas, sem os olhar. «Se sois Cristãos, prestai louvor a Deus e deixai-me depressa! Pois estou tão condenado, que nunca mais me deve ser dado ver homens bondosos, com olhos tão pecadores. O meu corpo está tão manchado de pecados que é justo que fique só até à minha morte. Para que um dia a minha alma vença a tortura eterna, pago o preço aqui na terra. Se eu vivesse entre vós, por causa dos meus pecados sofreriam pessoas piedosas. A minha culpa é tão desmedida, que árvores e ervas e todo o verde à minha volta teriam que murchar sob o desagradável som da minha voz depravada e sob a monstruosidade dos meus pés descalços."

Hartmann von Aue, Gregório, trad. Alois Weimer, Porto: Figueirinhas, s.d., p. 101. 

Wednesday, September 26, 2018

DES-FIGURA


"Como as cadeias pendiam dele pesadamente dia e noite, tinham-lhe ferido cruelmente a carne até aos ossos, de modo que o sangue corria constantemente de feridas frescas. Esta dor atormentava-o ainda para além de toda a outra dor que tinha de suportar. Penso, como comparação, num pano de linho que se estendeu sobre os ossos através da pele, os grandes como os pequenos. Por muito que entretanto o amado de Deus tenha sido, pelo seu martírio, desfigurado, no corpo, sempre o Espírito Santo fora a sua companhia, e tão poderosamente agia, que, apesar de toda a ruína, lhe ficara toda a sabedoria que outrora adquirira de todos os seus professores e livros."

Hartmann von Aue, Gregório, trad. Alois Weimer, Porto: Figueirinhas, s.d., p. 100. 

Tuesday, September 25, 2018

INFAME



"Assim ele começou a parti-lo, com todos a assistir. Então o ambicioso homem encontrou no estômago do peixe aquela chave com que, como ouvistes, o pescador, 17 anos antes, fechara Gregório tão infamemente.
Depois lançara a chave à água e exclamava que se algum dia a reavesse da profundeza do lago, Gregório estaria sem pecados. Quando ele a encontrou no peixe, reconheceu de repente que estava cego e agarrou-se impetuosamente com as duas mãos à cabeça. Apesar do muito que eu o aborreça noutras coisas, nesta altura eu tê-lo-ia ajudado, se estivesse presente."


Hartmann von Aue, Gregório, trad. Alois Weimer, Porto: Figueirinhas, s.d., pp. 97-98. 

Monday, September 24, 2018

SALTO



"Depois vem o Invisível; o Oculto sua verdade faz patente;
Minha consciência exterior desaparece, minha essência interior sente:
Quase livres suas asas - encontrados lar e abrigo, 
Mede o abismo, debruça-se e arrisca o salto definitivo."


Emily Brontë, in Poemas Escolhidos das Irmãs Brontë, trad. Ana Maria Chaves, Lisboa: Relógio D'Água, 2014, p. 83. 

Sunday, September 23, 2018

EQUINÓCIO


"Leite de Vasconcelos, que nasceu perto, na Ucanha, fala de um religioso que passava todo o tempo a varrer as folhas e a juntá-las em pequenos montes. Deitava-lhes fogo nos dias de nenhum vento; fogueiras para as quais seguiam os troncos velhos das videiras nas tardes escurecidas do inverno. Iriam aquecer, nas braseiras de cobre, as celas dos frades mais velhos."

João Miguel Fernandes Jorge e Pedro Calapez, O Próximo Outono, Lisboa: Relógio D'Água, 2012, p. 37. 

Saturday, September 22, 2018

ESMAECER



"Ali, naquela curva do bosque, onde as rosas que restaram de setembro, esmaecidas, me devoram o sonho pela noite."

João Miguel Fernandes Jorge e Pedro Calapez, O Próximo Outono, Lisboa: Relógio D'Água, 2012, p. 191. 

Thursday, September 20, 2018

ARCANOS


"A estas palavras os olhos inundaram-se-me de lágrimas, e, cobrindo a cabeça com a ponta da capa, entreguei-me a lúgubres meditações sobre as causas humanas. Ah! Homem desventurado!, exclamei com fundo pesar: a fatalidade cega ri-se do teu destino! E uma lei funesta rege ao acaso a sorte dos mortais! Mas, oh, não! Sinto que são decretos a justiça divina que se cumprem! Um Deus misericordioso exerce os seus incompreensíveis julgamentos! Sem dúvida lançou algum anátema terrível contra esta terra, amaldiçoando as atuais gerações, pelos delitos das raças extintas! Oh! Quem ousará sondar os arcanos da Divindade?
E assim permaneci imóvel, mergulhado em profunda melancolia."

Conde de Volney, As Ruínas de Palmira, trad. Francisco Quintal, Lisboa: Livraria Renascença, s.d., p. 27. 

Wednesday, September 19, 2018

A PEQUENA CLARIDADE


"Tal é a tua grandeza, que eu nem sequer existo, 
quando apenas de ti me aproximo, por ti visto.
Tu és tão obscuro; a minha pequena claridade
na tua orla não faz qualquer sentido na realidade. 
Como uma onda passa a tua vontade
e cada dia nela se afoga de verdade. 

Apenas a minha saudade pode ao teu rosto chegar
para diante de ti como o maior dos Anjos ficar: 
estranho, ainda não liberto e a empalidecer, 
suas asas para ti a estender. 

Um voo sem margens já não quer, 
pelo qual passavam luas macilentas, 
e dos mundos há muito é pleno o seu saber.

Com suas asas quer como com chamas lentas
diante de teu rosto de sombras permanecer
e quer no seu branco brilho ver, 
se tuas sobrancelhas de cinza o estão a mal querer."


Rainer Maria Rilke, O Livro de Horas, trad. Maria Teresa Dias Furtado, Lisboa: Assírio & Alvim, 2008, p. 83. 

Tuesday, September 18, 2018

LA TIGRE ASSENZA



"Ai que a Tigre
a Tigre Ausência, 
ó amados, 
devorou tudo
deste rosto voltado
para vós! A boca apenas
pura
reza-vos ainda:
para que rezeis ainda 
a fim que a tigre
a Tigre Ausência, 
ó amados, 
não devore boca
e oração..."


Cristina Campo, O Passo do Adeus, trad. José Tolentino Mendonça, Lisboa: Assírio & Alvim, 2002, p. 75. 

Monday, September 17, 2018

ENIGMA



"Corpo meu fará quadrado.
Corpo meu duro que é
Embora palavra não diga
Palavras guarda. E responde."


China, "Poema Enigma do séc. XVIII(?)", in Poemas Anónimos Turcos, Mongóis, Chineses e Incertos, ed. Gil de Carvalho, Lisboa: Assírio & Alvim, 2004, p. 20. 

Sunday, September 16, 2018

SAÍDA



"Quem de sua vida muitos paradoxos concilia
e agradecido numa imagem os enuncia, 
nada impede
que os tumultuosos do palácio faça sair, 
festeja de outra forma, e tu és convidado a vir
onde ele nas tardes calmas te recebe. 

Tu és o segundo da sua solidão, 
o centro sereno em que seus monólogos se dão;
e cada círculo a te rodear, 
expande-lhe do tempo o movimento circular."


Rainer Maria Rilke, O Livro de Horas, trad. Maria Teresa Dias Furtado, Lisboa: Assírio & Alvim, 2008, p. 61. 

Saturday, September 15, 2018

POR DETRÁS (RILKE)



"Por detrás das palavras permanece
o indizível... No verbo silenciado
o canto, e é no canto iluminado
arde o maravilhoso, resplandece

que o espírito entrevê (quase) o inefável...
Ah no canto existir! Canto-experiência, 
não sentimento; o canto, eis a existência!
E eis que o canto se eleva e no insondável

(pura contradição) resplende a rosa...
E quando a noite invade uma cidade, 
a solidão do homem, amarga e forte, 

com os rios passa... A criatura, ansiosa, 
um bem suplica a oculta divindade:
- Morrer, Senhor, de nossa própria morte!"


Alphonsus de Guimaraens Filho, Antologia Poética, Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1963, pp. 92-93. 

Friday, September 14, 2018

DO NÃO SABER



"Que sabes tu da solidão dos Apóstolos diante do Crucificado?
Da solidão de Maria diante do Crucificado?
Da solidão das gentes?
Da tua solidão diante do Crucificado?

Ah, chora tu mesmo sobre a tua própria solidão! Chora tu mesmo
sobre o teu próprio deserto, 
sobre as tuas próprias lágrimas, 
sobre o teu desamparo... A noite sopra
treva no teu coração, a noite devora as últimas 
luzes, e é tudo mais vazio, 
e nenhum caminho há para quem esqueceu o Caminho
e nenhuma porta se abre para quem viu dissipar-se a Porta."


Alphonsus de Guimaraens Filho, Antologia Poética, Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1963, pp. 29-30. 

Thursday, September 13, 2018

SABER VEGETAL


"A arte foi para mim a maior aprendizagem, mesmo mais do que a poesia. Porque a poesia foi em mim uma coisa natural. E de há uns anos o mundo vegetal. O seu saber - e é sempre tão pouco - move-se entre os fantasmas, que são um misto de memória e de esquecimento."

João Miguel Fernandes Jorge, O Bosque, Lisboa: Relógio d'Água, 2015, p. 112. 

Wednesday, September 12, 2018

GNÓMON



"Sol de Setembro, desenganado. O purpúreo
campo alagado
nas horas do fôlego primeiro. Não
te irás submeter a esta luz, ou fechar os olhos
ao vigilante
abatimento da luz nos teus olhos. 

Firmamento de factos. E tu, 
como tudo o resto
que se move. Semente descrita
nas suas partes e dedal de ar. Verme e nuvem
fissurados: o final
em abertos da frase
no momento em que dou início
ao meu silêncio. 

Talvez, então, um mundo
que segrega as suas colheitas
nos pulmões, uma sobrevivência
através
da respiração apenas. E se nada, 
então deixa ser o nada
a sombra
que dentro da tua caminha, o corpo
que a primeira pedra lançará, para que mesmo
ao ires embora de ti, rumo a ti
o possas sentir cheio de vontade, hora-a-hora
através das enormes
vinhas dos vivos."


Paul Auster, Poemas Escolhidos, trad. Rui Lage, Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2002, pp. 86-87. 

Tuesday, September 11, 2018

BROTA O QUADRO



"Brota o quadro
De cada vez que
O espectador não só observa
Mas aprofunda
E descobre a necessidade

Aquela que obrigou o então jovem pintor
A fazê-lo
O quadro que brota
Despertando fortes emoções
Que nos parece não terem relação com o tema."


Tassos Denegris, A Outra Versão, trad. colet., Lisboa: Quetzal Editores, 1994, p. 49. 

Monday, September 10, 2018

MATÉRIA VIVA


"Sendo as coisas sofrimento como são, temos que ser inimigos do mundo. Ou pelo menos teremos de estar quase sempre em luta contra o mundo; e não passamos na terra de uns estranhos, mesmo conhecendo a superfície da sua geografia, a história do fazer e desfazer das suas sociedades e culturas. Adapto-me ao mundo, por estranheza; é esse o modo que por ele percorro, e pela qual reconheço o que é matéria viva e que vai morrer ou que há muito permanece morta. Pela estranheza coloco-me no tempo e no espaço, atribuo duração e sei o que pertence à matéria e o que é - mesmo em sonho - território do espírito."

João Miguel Fernandes Jorge, O Bosque, Lisboa: Relógio d'Água, 2015, p. 52. 

Friday, September 7, 2018

APARIÇÃO


"Demais, o arcanjo Gabriel pertenceu a um mundo há muito subvertido. Mesmo que quisesse, como haveria de voar até ao mundo tal qual é agora? A sua aparição metamorfosear-se-ia - quem sabe com que sarcasmo - pensaria a altiva e grácil açucena - também ela a flor de Apolo - no gato amarelo que pratica nestes últimos meses a caça, aqui, no bosque. Foi ele quem apareceu, altivo, ficou à distância a olhar para mim."

João Miguel Fernandes Jorge, O Bosque, Lisboa: Relógio d'Água, 2015, p. 16. 

Thursday, September 6, 2018

PERDIDOS


"(...) só quando estamos completamente perdidos ou damos uma volta - basta girarmos sobre nós mesmos com os olhos fechados para nos perdermos - apreciamos a vastidão e a estranheza da Natureza. Ao despertarem, quer do sono, quer da distração, todas as pessoas têm de reaprender os pontos cardeais. Só quando estamos perdidos - por outras palavras, só quando perdemos o mundo - começamos a reencontrar-nos e percebemos não só onde estamos mas também a vastidão infinita das nossas relações."

Henry David Thoreau, Walden, trad. Alda Rodrigues, Lisboa: Relógio D'Água, 2016, p. 149. 

Wednesday, September 5, 2018

UMA ESPÉCIE DE FICÇÃO


"Através do pensamento, podemos estar além de nós mesmos sem perdermos a sanidade. Por um esforço mental deliberado conseguimos distanciar-nos das ações e das suas consequências, e todas as coisas, boas ou más, passam por nós como uma torrente. A Natureza não nos envolve completamente. Posso ser tanto um fragmento de madeira à deriva na corrente como Indra no céu, contemplando-o do alto. Posso não ser afetado por um acontecimento real que pareça muito mais importante para mim. Conheço-me apenas como entidade humana; palco, por assim dizer, de pensamentos e emoções; tenho consciência de uma dupla natureza que me permite distanciar-me de mim mesmo e ver-me como vejo os outros. Por muito intensa que seja a experiência, tenho consciência da presença e da atitude crítica de uma parte de mim que, por assim dizer, não faz parte de mim, mas é um espectador, observando a experiência em vez de participar nela; e assim é com toda a gente. Quando a peça, chamemos-lhe tragédia, da vida acaba, o espectador vai-se embora. Para ele, tratou-se apenas de uma espécie de ficção, de uma mera obra da imaginação. Por vezes, esta duplicidade torna-nos facilmente maus vizinhos e amigos."

Henry David Thoreau, Walden, trad. Alda Rodrigues, Lisboa: Relógio D'Água, 2016, p. 119. 

Tuesday, September 4, 2018

OBLIQUAR



" - Que é que ele quer dizer com obliquar? - inquiriu Zelda. 
- Obliquar? Acho que quer dizer dar-lhe gás e derrapar nas curvas.
Olhou para mim com ar solene. 
- Acho que quer dizer andar em segunda. 
- O que quer mesmo dizer é andar às voltas, às voltas, até conseguirmos sair de um sítio."


F. Scott Fitzgerald, A Viagem da Velha Sucata, trad. Telma Costa, Lisboa: Teorema,1992, p. 29. 

Monday, September 3, 2018

NATUREZA E CLARIDADE


"La Naturaleza es un maestro intruido y imparcial, que no difunde opiniones vulgares ni adula a nadie. Ella no quiere ser ni radical ni conservadora. Examinad la luz de la luna, tan civilizada y, sin embargo, tan salvaje!"

Henry David Thoreau, Noche y luz de luna, trad. Jordi Quingles, Palma: José J. de Oñaleta, Editor, 2018, p. 65. 

Sunday, September 2, 2018

DÉCIMO ANO (para a Vera)



"The Gods will not tell us, nor will Fate. The Gods are dead and Fate is dumb."


Fernando Pessoa, Heróstrato e a Busca da Imortalidade, Lisboa: Assírio & Alvim, 2000, p. 199.

Saturday, September 1, 2018

DISTINÇÃO


"Consideremos por um momento a que se deve a maior parte da preocupação e da ansiedade que referi e até que ponto é necessário que nos incomodemos ou, pelo menos, que tenhamos cuidado. Seria vantajoso optarmos por uma vida primitiva na fronteira, ainda que rodeados pela civilização, quanto mais não fosse para percebermos quais são realmente as nossas necessidades básicas e através de que métodos podemos assegurá-las; poderíamos consultar os livros de contabilidade dos comerciantes de antigamente, para vermos que produtos as pessoas mais compravam, o que tinham em armazém, isto é, as mercearias com mais saída. O progresso pouco afetou as leis essenciais da existência humana ao longo dos tempos; é provável que seja impossível distinguir os nossos esqueletos dos nossos antepassados."

Henry David Thoreau, Walden, trad. Alda Rodrigues, Lisboa: Relógio D'Água, 2016, p. 16.