"- Pára de atormentar o teu espírito com cuidados funestos e com receios injustificados, Prosérpina. Mais poderosos ceptros te serão dados e não casarás com um esposo indigno. Eu sou de Saturno aquele filho a quem obedece a máquina do mundo e que estende o seu poder pelo vazio sem fim. Não dês por perdida a luz do dia. Outros astros temos e outras órbitas. Hás-de ver mais clara luz e admirarás mais o sol dos campos elíseos e os piedosos adoradores. Lá habita uma raça de valor mais elevado, a geração dos homens da Idade de Ouro, e é constantemente nosso o que os do mundo superior só uma vez mereceram. Tão pouco te faltarão os aprazíveis prados. Lá há flores perenes, que para Zéfiros mais suaves exalam o seu perfume, flores que nem o teu Etna faz nascer. Há também uma árvore, na espessura dos bosques, cujos ramos refulgentes se curvam carregados de metal verdejante. A ti esta árvore é atribuída como objecto sagrado. Serás Senhora do Outono opulento e sempre com os seus louros frutos hás-de ser enriquecida. Mas digo pouco! Quanto o límpido ar abarca, quanto a terra nutre, quanto encerram as ondas do mar, quanto os rios levam na corrente, quanto pelos pântanos foi alimentado, todos os animais que se encontram sob o globo lunar, que é o sétimo a rodear os ares e separa os mortais dos astros eternos, se submeterão ao teu poder. A teus pés hão-de vir os reis cobertos de púrpura, posto de lado o luxo e com a multidão dos pobres misturados. A morte tudo nivela. Tu condenarás os que fazem o mal, aos pios darás o descanso. (...)"
Claudiano, O Rapto de Prosérpina, 277-304, trad. Luís Cerqueira, Lisboa: Ed. Inquérito, s/dt, pp. 79-81.
No comments:
Post a Comment