"Com a Fotografia, entramos na Morte crua. Um dia, à saída de uma aula, alguém me disse desdenhosamente: «Você fala cruamente da Morte.» Como se o horror da Morte não fosse precisamente a sua crueza! O horror é isto: nada a dizer da morte de quem eu mais gosto, nada a ter de dizer da sua foto que contemplo incessantemente sem nunca poder aprofundá-la, transformá-la. O único «pensamento» que posso ter é o de que nessa primeira morte está inscrita a minha própria morte. Entre as duas mortes, a única coisa a fazer é esperar; não tenho outro recurso a não ser essa ironia: falar do «nada a dizer»."
Roland Barthes, A Câmara Clara (Nota sobre a fotografia), trad. Manuela Torres. Lisboa: Edições 70, 2008, pp. 103-104.
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