"Acumulam ainda uma grande quantidade de coisas umas sobre as outras: discursos de profetas, círculos sobre círculos, ribeiros da Igreja celeste e da circuncisão, virtudes que emanam de uma virgem Prunicos, alma vida, céu que para viver deve ser imolado, terra degolada pela espada, homens que só viverão se forem massacrados, morte que cessará no mundo pela morte do pecado, nova descida por lugares estreitos, portas que se abrem por si sós. Por toda a parte misturam a árvore da vida e a ressurreição da carne pela madeira, provavelmente porque o mestre deles foi pregado na cruz e porque era carpinteiro. Tivesse sido ele precipitado do cimo de um rochedo, ou atirado a um abismo, ou enforcado com uma corda, ou se tivesse sido sapateiro, canteiro ou serralheiro, não deixariam de pôr no cimo dos céus o rochedo da vida, ou o abismo da ressurreição, ou a corda da imortalidade, a pedra da beatitude, o ferro da caridade ou o coiro da santidade. Haverá alguma velha que não tivesse vergonha de contar tais frivolidades para adormecer uma criança?"
Celso, Contra os Cristãos, III, 73., trad. José Henrique Botelho Júnior, Lisboa: Editorial Estampa, 1991, p. 81.