Monday, June 21, 2021

SUBANIMALIDADE

 


"Sim, era o horror rígido da pseudomorte e o rosto de animal, quase já não um rosto, era apenas a transparência da planta, saído de um caule, emaranhado em caules, dobrado em caules-de-cauda, controlado pelos caules de serpente, surgido dos imensos, insondáveis reinos subterrâneos das raízes, surgido da unidade de imensos emaranhados de raízes, cuja infra-animalidade lhe está incorporada, esse rosto de animal desnudou-se para o horror da ausência da particularidade, alimentado pelo nada do centro. Não havia medo da morte que se pudesse comparar com este, o mais terrível de todos, porque era o horror da pseudomorte, rodeado pela subanimalidade, pela pré-animalidade, nenhum medo de feridas ou de dores ou de asfixia se comparava a este horror asfixiante, cuja indefinibilidade já nada deixava reter, porque na criação ainda incriada, na sua não-respiração, na sua falta de ar, nada se deixa reter"


 Hermann Broch, A Morte de Virgílio, trad. Maria Adélia Silva, Lisboa: Relógio D'Água, 2014, p. 134. 

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