Monday, December 24, 2007

A LUZ SE APAGA, A BRUMA SOBE...



"A luz se apaga, a bruma sobe, as ondas indistintas
fundem o seu som à noite lenta e quieta.
Não natureza isto: uma tristeza só
de nos pensarmos quanto no passado
se era animal sem culpa e sem vileza
de ser-se humano em pensamento. Nada

há senão só um corpo que não fale
e que não pense para mais que o instante
de usar-se inteiro no esquecer da vida.

E a vida então será, sem noite e sem memória,
o prazer puro em triunfar-se viva."


Jorge de Sena, "Exorcismos", in Poesia III, Lisboa: Edições 70, 1989, p. 136.

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