Thursday, November 9, 2023

FRUTOS (para a memória de Manuel Gusmão)

 



"Eram tempos de míngua, em tempo de guerra
de guerrilhas, mas nós não morríamos
e, recuando, gritávamos-te:

Frutos havia, sim, ó amada! nesse verão:
Como a tâmara - esse casulo oriental
dissolvendo a polpa corrompida
em redor da sua óssea semente em vão
erguida; ou as nozes - ondas crespas
encrespando um mar imóvel e rilhando
os dentes, inexistentes. E se preferires,
serão figos, ficos secos - formas passas
do fruto; pequenas capelas auriculares escondidas
no bosque; doce matéria para os dedos moldarem,
modeladas já, moldáveis ainda."


Manuel Gusmão, A Terceira Mão, Lisboa: Caminho, 2008, p. 16.

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