Tuesday, April 9, 2024

ÚLTIMA EXORTAÇÃO AO MEU ANJO (para a memória de Eugénio Lisboa)

 




"Um dia, quando a tarde, arrefecendo,
Cinzenta se fizer, e eu for, também, anoitecendo,
E as aves, já perdendo o gosto de cantar,
Se calem, quando eu próprio me calar,
Meu Anjo! ao meu gelado desespero
Baixa, mais uma vez,
Teus olhos inclementes!
Clemências não nas quero!
Não quero nada que por dó me dês.
Não quero emolientes.
Quero, ao morrer, ouvir-me dizer: «morro.»
Não me dês nada, pois senão que eu morra
Digno do teu socorro,
Sem que ele me socorra!"


José Régio, Colheita da Tarde, Porto: Brasília Editora, 1984, p. 79.

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