Friday, March 23, 2007

OFÍCIO DOS MORTOS - SUSPIROS EM DOIS FRAGMENTOS

I.
"Os mortos reluzem nas cavernas, os nossos mortos
de corpo fechado pela perfeição das lágrimas.
Seus órgãos sustidos têm o peso
das jóias.
Porque a infância é uma visão terrífica, hipnótica.
Um transe, os olhos que se tornam secretos, o extremo lunar da casa
- pedra queimada no centro
da terra."

II.
"A energia das lunações reflui nos nervos
do espelho,
e a queimadura brilha
a pique - flor pulmonar moldada, e em baixo
as estrelas pontiagudas
das mãos."


Herberto Helder, Ou o poema contínuo, Lisboa: Assírio & Alvim, 2004, pp. 324-325.

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