Sunday, February 24, 2008

PUXAR O MUNDO SOBRE MIM, COMO UM VÉU

(museu arqueológico, Istambul)


Todo-o-Mundo

Só, senta-se debaixo de uma macieira

O que me querem provar com o facto de se envelhecer? Não afaga igualmente este ar tépido e suave o homem como o rapaz de doze anos? E se me inclino para trás a olhar fixamente através das folhas para o céu - não é este sentimento de vertigem tão sedutor e terrível como sempre foi? Não sou eu este jovem, desde que esteja sozinho? Em todo este esplendor sinto igualmente como se brilhasse como as folhas das árvores, como a pedra cintilante no outeiro, e que toda a escuridão submergiu na orla do céu. Pode ser, vivi horas amargas - onde estão agora? Lá onde estão as noites duras de Inverno. Sinto-me como se fosse capaz de puxar o mundo sobre mim como um véu e de envolver-me nele, sentir tudo o que há nele, pressentir tudo, amar tudo. Quando em rapaz tinha esta sensação adormecia logo, talvez hoje seja de novo assim.



Hugo von Hofmannsthal, Jedermann (Todo-o-Mundo), trad. João Barrento, Lisboa: Livraria Estante Editora, 1986, p. 56

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