Friday, March 6, 2009

CINZA FUNÉREA DE POESIA



"Na treva a alma se oculta
enquanto dura a trégua.
Ao longe, na luz, inculta,
a borboleta vem. Cego-a.

Por dentro as sinto,
Alma e borboleta,
o corpo de sangue tinto,
as mãos de tinta preta.

Escondida uma, venérea,
tonta a outra agoniza;
ó vida, cinza funérea
de poesia, de mim campa lisa."


Vasco Graça Moura, "O Voo de Igitur num Copo de Dados", in Obra Poética (1972-1985). Lisboa: Quetzal Editores, 1991, p. 269.

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