152
Os poetas não possuem nada e muito menos as palavras; apenas uma espécie de exílio nas secretas caves delas.
156
Escrevo mas não queria escrever. Falo mas preferia calar-me. O silêncio - uma voz - corre entre o falar e o escrever. É um rumor fabuloso. Que vem de longe, do caos e não da lei, donde vêm as palavras. Escrevo, logo hesito entre falar e calar-me.
157
Escrevi e depois fiquei deserto. Umas palavras e depois cansei-me. Uns grãos de areia, e nada mais. Nalgum deles haverá um caminho. Agora, que me devorei, sou o deserto. Grãos de areia que se acompanham uns aos outros. Não sei como. Vou escutar."
Casimiro de Brito, Fragmentos de Babel seguido de Arte Poética, Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2007, pp. 40-41.