"e foi assim que tudo se tornou demasiado,
os teus ouvidos seguiam a respiração dos que
ainda mexem na memória, a margem fora
retirada, os papéis ficaram, a roupa gravada
com o código dum olhar ferido a tempo para outro
sonho de acesso reservado, ainda os cheiros,
a calor das máquinas, a sensação de algo que
suplanta o que nós somos e a névoa a retirar-se
com saudade à flor do dia calmo, não sei se choramos,
se mentiste, humana perdição do amor e frouxa
luz, que adianta morrer se não é agosto que nos falta,
a tarde mais ao fundo da nossa mais que louca
fantasia? Os cães desesperados pedem-nos para
entrar, minha amiga dos vestidos, de todas
as humanas tentações, agora é a tua vez
de acreditar na mais medonha face da
alegria"
Rui Costa, A Nuvem Prateada das Pessoas Graves, Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2005, p. 57.
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