"A quem não basta a vida, a quem procura
as luzes escondidas de outra noite
deixo dedicatória e pronta fuga
da treva que nos ronda até à morte.
Mas já não sei mentir. Ruim figura.
Durou o nosso enredo uma só noite.
Teu corpo eu aprendi nessas escuras
sombras a que não chega nem a morte.
A quem não basta a vida, a quem engana
essa réstea de luz dentro da noite
deixo dedicatória e abro os olhos:
que tudo nos é dado de repente.
E num feixe de sombras imprecisas
arde o que resta a quem não basta a vida."
Luís Filipe Castro Mendes, "Modos de Música", in Poesia Reunida (1985-1999), Lisboa: Quetzal Editores, 1999, p. 269.
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