Sunday, March 28, 2021

RAMOS

 



"Na copa da tua árvore soa a luz ruidosa
e torna para ti cada coisa colorida e vaidosa, 
assim te encontram só quando o dia lentamente se apagou. 
O crepúsculo, a ternura do espaço que ficou, 
põe mil mãos sobre mil cumes em repouso, 
e entre eles o desconhecido se torna piedoso. 

De outro modo não queres a ti o mundo prender tanto
do que assim, com este suavíssimo gesto que preparas. 
Dos seus céus a terra para ti agarras
e sente-la debaixo das dobras do teu manto. 

Tens assim um modo discreto de ser.
E todo aquele que a ti sonoros nomes disser, 
já esquecido está da tua proximidade. 

Das tuas mãos se erguem a altear, 
sobe, para aos nossos sentidos a lei dar, 
com fronte grave a tua muda capacidade."


Rainer Maria Rilke, O Livro de Horas, 2.ª ed., trad. Maria Teresa Dias Furtado, Lisboa: Assírio & Alvim, 2020, p. 161.

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