Monday, May 31, 2021

AÇÃO

 



"(...) agimos como bárbaros uns em relação aos outros, enquanto por natureza todos em tudo nascemos igualmente dispostos para ser tanto bárbaros quanto gregos. É o caso de observar as coisas que por natureza são necessárias a todos os homens: a todos são acessíveis pelas mesmas capacidades, e em todas essas coisas nenhum de nós é determinado nem como bárbaro nem como grego. Pois todos respiramos o ar pela boca e pelas narinas."


Antifonte, Testemunhos, Fragmentos, Discursos, trad. Luís Felipe Bellintani Ribeiro, Levoir Edições, 2017, p. 69. 

Sunday, May 30, 2021

REPOUSO




"A dor repousou.
A beleza não repousa.
O marido tocou a têmpora da mulher
e voltou-se
e correu
escada
abaixo."


Anne Carson, A beleza do marido, 2.ª ed., trad. Tatiana Faia, Lisboa: não (edições), 2020, p. 68. 

Saturday, May 29, 2021

LUZES






"Todo o mito é um padrão enriquecido, 
uma preposição de duas faces, 
que permite ao seu operador dizer uma coisa e significar outra, viver uma vida dupla.
Daí a noção no pensamento grego arcaico de que todos os poetas são mentirosos. 
E das mentiras verdadeiras da poesia
gotejou uma pergunta. 

De verdade, o que é que liga palavras e coisas?

Não muito, decidiu o meu marido
e prosseguiu a utilizar a linguagem
do modo que Homero diz que os deuses a utilizam. 
Todas as palavras humanas são conhecidas dos deuses mas têm para eles outros significados
além dos nossos. 
Eles pressionam o interruptor a seu bel-prazer.

O meu marido mentiu sobre todas as coisas. 
Dinheiro, reuniões, amantes,
o local de nascimento dos pais, 
a loja onde comprava as camisas, a ortografia do seu próprio nome.
Mentia quando não era preciso mentir. 
Mentia quando não era sequer conveniente. 
Mentia quando sabia que sabiam que estava a mentir.

Mentia quando isso lhes partia o coração. 

O meu coração. O coração dela. Muitas vezes me pergunto o que lhe aconteceu. 

A primeira.

Há algo de puramente-aguçado e incandescente acerca da primeira infidelidade num casamento.

Táxis para a frente e para trás.

Lágrimas.

Fendas na parede onde é esmurrada.

Luzes acesas até altas horas da noite. 

Não posso viver sem ela. 

Ela, esta palavra que explode. 

Luzes ainda acesas de manhã."



Anne Carson, A beleza do marido, 2.ª ed., trad. Tatiana Faia, Lisboa: não (edições), 2020, pp. 43-45. 

Friday, May 28, 2021

VIGÉSIMO QUINTO ANO

 



"Os rostos que emergem dos campos perguntam-me
   pelo regresso. 
O meu grito não perturba a andorinha 
   pousada no ramo partido. Sombria
é a minha alma, que o vento impele
   para o mar, a fim de cheirar o sal da terra.
A minha lenda é mortal. 
   Debaixo da árvore, que é semelhante ao meu irmão, 
conto as estrelas dos mareantes."


Thomas Bernard, Na Terra e no Inferno, trad. José A. Palma Caetano, Lisboa: Assírio & Alvim, 2000, p. 219. 

Wednesday, May 26, 2021

PRECISÃO




"Esta precisão vocabular dos gestos,
este acontecido ou para acontecer
silêncio do copo inteiro do universo. 

Esta voluntária adesão ao fogo
mais ao seu poder de depuradora
destruição.

Este unicamente pressentido modo
de possuir tudo nada possuindo.

Este único e branco
edifício da alma."


Raul de Carvalho, Lâmpadas Acesas para Aumentar o Dia, selec. e apresentação de Diogo Martins, Lisboa: Língua Morta, 2020, p. 50. 

Tuesday, May 25, 2021

SOBRE UM TRANQUILO CORO

 



"Os pastores, quando os vêem, temem pelos rebanhos
e mandam os seus cães ladrar mais alto; o medo
pousa, ao anoitecer, nas árvores e nas portas, 
calam-se os sonos, quando alguns deles morre. 

As virgens não percebem o estranho e leve abraço, 
a carícia sem gesto, o calor sem vertigem,
o salmo sem pronúncia, a palidez sem cor
que de repente cobre as curvas do seu corpo. 

Os encontros são vagos e solenes indícios
de que eles se aproximam; das volutas em arco
da igreja sem imagens, sobre um tranquilo coro, 
um anónimo requiem de paz e de abandono. 

Os guerreiros descobrem seu peito ao inimigo, 
as prostitutas benzem a cama por fazer; 
os marinheiros partem depressa para o mar
e os cegos não resistem à tentação da música. 

Os poetas compõem hinos de amor, enquanto
confiam na propícia brancura do papel. 
A memória fugiu-lhes, e é indiferentemente
que o vinho lhes escorre dos ombros incompletos."



Raul de Carvalho, Lâmpadas Acesas para Aumentar o Dia, selec. e apresentação de Diogo Martins, Lisboa: Língua Morta, 2020, pp. 78-79. 

Monday, May 24, 2021

A PALAVRA DOS ANJOS

 



"É opaca a palavra dos anjos, e imóvel
o sorriso que brinda seus lábios entreabertos. 
Uma nuvem solícita, um lívido relâmpago
lhes coroa a cabeça adolescente. 

Seu riso não perturba, seu olhar não deslumbra, 
seu corpo não é mais do que o leito das águas.
O aroma que bebem, o perfume que pisam 
não deixa mais sinais do que a legenda, o nome. 

O ar que eles respiram é sagrado, é tecido
de silenciosos fios, metálicos anéis.
Despida, a sua carne insexual e frágil
causa pavor aos homens e o pasmo às mulheres.

As mães, essas nocturnas vestes sacrificadas
aos primeiros vestidos, aos laços no cabelo, 
não reconhecem neles os filhos destinados
a obter de Deus a permissão do eterno."
(...)


Raul de Carvalho, Lâmpadas Acesas para Aumentar o Dia, selec. e apresentação de Diogo Martins, Lisboa: Língua Morta, 2020, p. 78.

Sunday, May 23, 2021

ARTE POÉTICA

 



"Gostaria de começar com uma pergunta
ou então com o simples facto 
das rosas que daqui se vêem
entrarem no poema.

O que é então o poema?
Um tecido de orifícios por onde entra o corpo
sentado à mesa e o modo
como as rosas me espreitam da janela?

Lá fora um jardineiro trabalha, 
uma criança corre, uma gota de orvalho
acaba de evaporar-se e a humidade do ar
não entra no poema.

Amanhã estará murcha aquela rosa:
poderá escolher o epitáfio, a mão que a sepulte,
e depois entrar num canteiro do poema, 
enquanto um botão abre em verso livre
lá fora onde pulsa o rumor do dia.

O que são as rosas dentro e fora
do poema? Onde estou eu no verso em que
a criança se atira ao chão cansada de correr?
E são horas do almoço do jardineiro!
Como se fosse indiferente a gota de orvalho
ter ou não entrado no poema!"


Rosa Alice Branco, Da Alma e dos Espíritos Animais, Porto: Campo das Letras, 2001, pp. 42-43. 

Saturday, May 22, 2021

TER OU NÃO TER

 




"Estamos sempre a perder coisas, 
as mais frágeis, ou as que caem pelo caminho
quando abrimos os braços para receber. 
A nossa vida nunca tem as mesmas palavras
para o que transportamos, 
mas tudo o que achamos nos deslumbra 
a casa, cheia de coisas que temos
ou não temos cada dia."


Rosa Alice Branco, Da Alma e dos Espíritos Animais, Porto: Campo das Letras, 2001, p. 74. 

Friday, May 21, 2021

O PACTO QUE RESTA (homenagem a Francisco Brines)

 



"        E como devolver à minha vida a luz
da manhã, as lágrimas nocturnas, 
o assombro do mar, os silêncios do melro, 
o tempo de uma tarde inacabável?

         E como devolver suas diferenças
à dor e à ventura, 
e ser ambas amadas de igual modo, 
pois ambas completam o sabor aceso da vida?

        Quando a idade é já desventurada
e o dia é uma pétala, 
e já mal restam rosas, 
não é possível recuperar o mundo. 

         Acolhe-te a uns olhos, jovens só, 
e com eles descobre o mundo que perdeste.
E que depois te olhem para ser deste mundo."



Francisco Brines, Ensaio de Uma Despedida - Antologia, trad. José Bento, Lisboa: Assírio & Alvim, 1987, p. 161.

Wednesday, May 19, 2021

PORTAS SOLDADAS

 




"Pudesse eu dizer o que tem de ser dito, 
como o meu corpo se torna na maior cilada da minha vida, 
a minha inocência na maior culpa!
Pudesse eu dizer quem sou - 
atrás das portas soldadas,
atrás da minha memória orgulhosa, 
pudesse eu dizer como se trava em mim
a luta contra as leis 
(contra as leis mesquinhas),
como o fogo da minha carne queima a minha alma, 
pudesse eu dizer o que estou destinado a dizer, 
o inferno do meu sangue, 
a escuridão dos meus olhos, 
a esterilidade das minhas canções, 
dizer a pobreza!"


Thomas Bernard, Na Terra e no Inferno, trad. José A. Palma Caetano, Lisboa: Assírio & Alvim, 2000, p. 149. 

Tuesday, May 18, 2021

VAIDADES

 


"Contudo, meu caro leitor, deverá recordar-se de que esta história tem como título Feira das Vaidades e que uma Feira das Vaidades é um local muito vaidoso, malvado e tonto, repleto de todas as espécies de embustes, falsidades e pretensões."


William Thackeray, A Feira das Vaidades, trad. Mafalda Dias, Matosinhos: Edições Book.it, 2011, p. 77. 

Monday, May 17, 2021

MÁRTIRES


"Para quem trabalham os mártires? A grandeza reside na partida que vincula. Os seres exemplares são de vapor e de vento."


René Char, Furor e Mistério, trad. Margarida Vale de Gato, Lisboa: Relógio D'Água, 2000, p. 267. 

Sunday, May 16, 2021

A VOZ DA EFEMERIDADE

 



"Faz com que eu conheça
todos os peixes do mar
e todas as crianças da Terra
e saboreie o odor da manhã
e o odor da tarde. 
Quero ouvir a linguagem dos peixes
e a linguagem do vento, 
que se assemelha à linguagem dos anjos.
Quero ouvir a voz
da efemeridade!
Todas as vozes são as vozes da efemeridade.
Todas as vozes que alguma vez se ouviram.
Todas cantam efemeridade.
Tu também cantas efemeridade."


Thomas Bernard, Na Terra e no Inferno, trad. José A. Palma Caetano, Lisboa: Assírio & Alvim, 2000, p. 147. 

Saturday, May 15, 2021

VOTOS

 



"Há ainda os votos e as promessas. Deus não é o primeiro a falar. Deus deixa-nos ir e vir. Mas nós pomos uma corrente à volta do braço e atiramos-lhe uma ponta: que pode Deus então fazer? É assim que esperamos acorrentá-lo também."


Henri Michaux, Um Bárbaro na Ásia, trad. Ernesto Sampaio, Lisboa: Maldoror, 2021, p. 84. 

DÁDIVA

 



"A Europa deveria «repousar» sobre a Ásia, dizem ainda alguns hindus. Mas a Europa não pode repousar sobre ninguém. Não pode repousar de todo. O tempo do repouso acabou. Agora, é preciso ver o que o resto vai dar. 
O repouso, aliás, não deu o suficiente."


Henri Michaux, Um Bárbaro na Ásia, trad. Ernesto Sampaio, Lisboa: Maldoror, 2021, p. 49. 

Thursday, May 13, 2021

O HUMANISMO DAS ÁRVORES (para a memória da Divina Maria João Abreu)

 




"As árvores fiéis ficam onde as plantamos
Derrotam a inércia da morte
Absorvem a distância com uma constância sem falhas
Com todo o seu corpo bandeira rumorejante
Ralham aos bichos pelos seus
Movimentos em rumo."


Styliános Kharkianákis, in A Grécia de que nos falas... - Antologia de Poetas Gregos Modernos, trad. Manuel Resende, org. Rui Manuel Amaral, Lisboa: Língua Morta, 2021, p. 189. 

Wednesday, May 12, 2021

NATURAL

 



" - Oh, Rebecca, Rebecca, que vergonha! - exclamou a Menina Sedley, uma vez que esta era a blasfémia mais grave até agora proferida por Rebecca; nesta altura, em Inglaterra, dizer «Viva Bonaparte!» era o mesmo que dizer «Viva Lúcifer!». - Como pode... como se atreve a ter pensamentos tão malvados e vingativos?
- A vingança pode ser malvada, mas é natural - respondeu a Menina Rebecca. - Eu não sou um anjo."


William Thackeray, A Feira das Vaidades, trad. Mafalda Dias, Matosinhos: Edições Book.it, 2011, pp. 12-13. 

Tuesday, May 11, 2021

QUIMERA


"«Encerra n'uma aldeia o teu destino, poeta; 
N'aldeia a f'licidade é virginal, completa.
Onde a alma conserva a eterna mocidade, 
A fina flor da luz da sensibilidade, 
Onde a boca não mente e o coração não chora, 
Onde a água é mais pura e mais vermelha a aurora, 
Aonde a gente encontra aquilo que eu mais amo, 
- Ninhos em cada peito e aves em cada ramo, 
Aí, poeta, aí é que é viver tranquilo!
Hás de encontrar n'aldeia um perfumado asilo. 
Canta a boa inocência, as rosas, as searas, 
Os mansos animais, as vivas cores claras, 
A abundância, a alegria, o vinho, a formosura, 
E os beijos sensuais e a húmida candura
Do transparente olhar da tua linda amante!
O poeta é como o aroma: o aroma inebriante
Enche o mar, enche a terra, enche o céu, enche tudo, 
E cabe, santo Deus! no leito de veludo, 
Nos rubros corações das pequeninas flores!»

- Não costumam dormir nas rosas os condores."


Guerra Junqueiro, A Morte de D. João, 10.ª ed., Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1921, pp. 16-17. 

Monday, May 10, 2021

FATORES EXTERNOS


"Porque o sábio não depende de factores externos, não está à espera dos favores da fortuna ou dos outros homens. A sua felicidade está dentro dele; fazê-la vir de fora seria expulsá-la da alma, que é onde, de facto, a felicidade nasce!"

Lúcio Aneu Séneca, Cartas a Lucílio, 72, trad. J. A. Segurado e Campos, 6.ª ed., Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2018, p. 285. 

DISRUPTIVO


"Ora o que ocorre na Contemporaneidade é que a imagem reaparece, mas agora no expoente máximo da sua força, como se num retorno do recalcado, invadindo o campo outrora dominado pela linguagem, e disruptivamente ampliando a sua presença até ao ilimitado de um exemplo que já não exemplifica, mas se constitui antes como a própria coisa."


Bernardo Pinto de Almeida, "Reflexos de Vénus: Pensar com o Imaginário", in Imagem e Pensamento, org. Moisés de Lemos Martins, José Bragança de Miranda, Madalena Oliveira, Jacinto Godinho, 2.ª ed., Vila Nova de Famalicão: Edições Húmus, 2017, p. 19. 

Thursday, May 6, 2021

MARULHAR

 



"Silêncio e luz com que se timbra o alto
voo de entrar o nosso próprio vulto
por um espaço em que são ambos santos
e a leitura um átrio diminuto
que dá, por sobre o marulhar abstracto, 
para um mar que marulha sem tumulto."


Fernando Echevarría, "Livro", in Poesia, 1956-1980, Porto: Edições Afrontamento, 2000, p. 198. 

Tuesday, May 4, 2021

FERROVIA

 


"Tudo isto passou-se naquele tempo, que éramos bárbaros, e os caminhos-de-ferro, incompatíveis com a nossa selvajaria, estavam ainda no catálogo das utopias. Isto agora é outra coisa. Daqui em diante até o romance nacional há de ter mais vida, mais lances, mais animação. O autor andará com ele de terra em terra, graças à facilidade do transporte, respigando aqui e além cenas palpitantes da vida do próximo e da próxima. A cor local ser-lhe-á mais barata e mais correta. O leitor terá propício azo de saber como se vive a dez léguas da sua casa, e fará então inteira justiça aos beneméritos filhos da pátria, que, primeiros, desceram das regiões da quimera, para nos favorecerem com a viabilidade pública, manancial de todas as riquezas e elemento indispensável para a extração dos cereais e dos romances."


Camilo Castelo Branco, Onde está a felicidade?, Porto: Book Cover Editora, 2020, p. 232. 

Monday, May 3, 2021

OURO

 


"É o dia a dia amante do poeta

um rosto contra todas as pátrias
num arco de versos     no deserto do século

uma cratera aberta no silêncio
para engolir todo o pranto da terra
até o homem ficar nu

ouro sobre azul sobre a morte
definitivamente"


António José Forte, Uma Faca nos Dentes e Outros Textos, Lisboa: Antígona, 2017, p. 67. 

Sunday, May 2, 2021

DIVÃ

 



" - Vem cá - disse Amaral ao jornalista -. senta-te aqui na cama. Vamos conversar como dois poetas da tua força moral, ou da minha. 
- Visto que vamos falar seriamente, chega-te para lá, que me quero deitar. A inteligência concebe melhor na postura horizontal. Diz lá. 
- Como explicas tu o meu plano de não viajar desde ontem? - interrogou Amaral, dando-se no sorriso fátuo uns ares de homem, incompreensível para o resto do género humano. 
- Do mesmo modo que o teu plano de viajar amanhã. Isso não me fez pensar um momento. Deduzo que não és um homem trivial. Tencionar executar é a qualidade inerente aos espíritos-ostras, que se agarram muito tempo à mesma ideia. Dou-te os parabéns por nunca saberes o que farás. O talento é assim."


Camilo Castelo Branco, Onde está a felicidade?, Porto: Book Cover Editora, 2020, p. 88. 

Saturday, May 1, 2021

MAIAS

 


"Se penetrares num bosque de velhas árvores, de altura fora do comum e tais que a densidade dos ramos entrelaçados uns nos outros oculta a visão do céu, a própria grandeza do arvoredo, a solidão do lugar,a visão magnífica dessa sombra tão densa e contínua no meio da planura, tudo te fará sentir a presença divina. Se vires uma montanha como que suspensa sobre uma caverna escavada na rocha, não pela mão do homem, mas roída por causas naturais até formar um enorme espaço, a tua alma será atingida por uma certa aura de religioso mistério."

Lúcio Aneu Séneca, Cartas a Lucílio, 41, trad. J. A. Segurado e Campos, 6.ª ed., Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2018, p. 141.