Monday, October 2, 2023

MONTE CÓRDOVA

 



"Com suas mãos, fabricara Angélica um cruzeiro tosco defronte da capela, e pusera ao lado um banquinho de pedra bruta, sobre duas que lhe serviam de pedestais. Ora dizia-se que, por desoras, a bruxa saía, a evocar dali o demónio, e o colhia às mãos com conjúrios e sortilégios, e o amarrava à cruz, de modo que todas as suas curas prosperavam enquanto o cão tinhoso estivesse preso. Um padre bem- intencionado daqueles sítios foi-lhe perguntar se, de feito, ela conseguia ter o diabo em prisão. Angélica, mais compadecida que pasmada da pergunta, disse ao padre:
- Se Deus omnipotente o deixa em liberdade, como hei-de eu, pobre pecadora, prendê-lo?"

Camilo Castelo Branco, A Bruxa de Monte Córdova, Lisboa: Círculo de Leitores, 1982, p. 180.

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