Saturday, December 9, 2023

OPRÓBRIO





" - Deus?!...- exclamou Manuel Coutinho, respondendo à última frase do ancião, e volvendo ao céu, límpido e azul, um olhar de amarga desesperação. - Não se esqueceu Ele de nós? Não está com os inimigos do Seu nome e da nossa liberdade?
- Não diga isso. Caia em si. Não vê que acusa a divina justiça?
- Coxa e lenta como a dos homens?... Senhor bispo! Sou moço e militar, desculpe-me, mas não posso suportar com paciência cristã o espectáculo de tantas misérias e de tantos crimes!...Fala na justiça de Deus?! Aonde estava ela, quando o vigário de Cristo, arrancado por mãos sacrílegas da sua cadeira, foi como seu divino Mestre, arrastado de prisão em prisão, de opróbrio em opróbrio, por turbas de soldados à voz de Bonaparte?"


Rebelo da Silva, A Casa dos Fantasmas - episódio do tempo dos franceses, Porto: Livraria Civilização, 1965, p. 116.

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