"os sons repartem-se pelas coisas, ficam sobre elas a escondê-las. O mundo é um grande lugar subtraído.
Está calada. Todos os sons frente ao seu olhar calado.
- não há alegria na criação de personagens. Digo: é contra a alegria: escrevo as palavras que prolongam a ausência, escrevo para continuar a morrer, para não acabar de morrer: eis a eternidade: a da voz que me usa e se distancia de mim. Nada percebo do que diz: sou o sítio de uma voz que me exclui. De vez em quando, esqueço-me. De vez em quando, lembro-me. Só a dor é vigilante. E o sono que me olha."
Está calada. Todos os sons frente ao seu olhar calado.
- não há alegria na criação de personagens. Digo: é contra a alegria: escrevo as palavras que prolongam a ausência, escrevo para continuar a morrer, para não acabar de morrer: eis a eternidade: a da voz que me usa e se distancia de mim. Nada percebo do que diz: sou o sítio de uma voz que me exclui. De vez em quando, esqueço-me. De vez em quando, lembro-me. Só a dor é vigilante. E o sono que me olha."
Rui Nunes, Grito, 2ª ed., Lisboa: Relógio D'Água, 1998, p. 42.
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