PASSEMOS OS SÉCULOS SEM ROSTO
"imagino que sobre nós virá um céude espuma e que, de sol em sol, uma nova língua nos fará dizero que a poeira da nossa boca adiadasoterrou já para lá da mão possívelonde cinzentos abandonamos a flor.dizes: põe nos meus os teus dedose passemos os séculos sem rosto,apaguemos de nossas casas o barulhodo tempo que ardeu sem luz.sim, cria comigo esse silêncioque nos faz nus e em nós acendeo lume das árvores de fruto.diz-me que há ainda versos por escrever,que sobra no mundo um dizer ainda puro."Vasco Gato, Um Mover de Mão. Lisboa: Assírio & Alvim, 2000, p. 9.
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