"Levanta o meu pensamento
No desejo tanta altura,
Que não se acha na ventura
Aquela glória que intento,
Senão em sombra e figura.
Porém como não descansa
Em contínuo imaginar,
Traz-me o cuidado em balança,
E é forçoso caminhar
por passos sem esperança.
Entre cuidado e cuidado
Me perco em qualquer extremo
Sempre igualmente arriscado:
Desespero quando temo.
E espero desconfiado.
Com temor e amor pelejo
Neste duvidoso enleio,
E pela mor parte vejo
Que donde nasce o receio
Me leva sempre o desejo."
Francisco Rodrigues Lobo, Poesias, selecç. Afonso Lopes Vieira, 2ª ed. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1955, pp. 164-165.
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