"Assiste àquilo que eu desejo que ela veja, uma história ao vivo, um desenho que poderia estar pendurado nas cordas da sua roupa. O vento a empurrar uma mulher em cima de uma concha, uma visão que vem da espuma, enquanto outra lhe estende um manto vermelho. O que marca a linha do seu corpo são os cabelos, as mãos que procuram esconder o amor. São outras mulheres que dançam com os dedos entrelaçados, entre as árvores. É isto que eu quero que se contemple da sua janela, a Primavera que se despe e entra num sono profundo, uma rua onde não existe a guerra, onde os tanques não destroem os alicerces das casas, um espaço único, sem pó, nem sangue, com a luz a entrar pelas escadas. Enquanto jovens mancebos, em fila, lançam flechas contra os ciprestres."
Jaime Rocha, Anotação do mal, Lisboa: Sextante Editora, 2007, pp. 28-29.
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