Sunday, May 31, 2009

AS MINHAS RAÍZES DESCEM POR ENTRE VEIOS

"As minhas raízes descem por entre veios de chumbo e prata, pela terra húmida que exala um odor pantanoso, até ao nó central formado por raízes de carvalho. Cego e surdo, com os ouvidos tapados com terra, ainda assim escuto com os fragores da guerra e o canto do rouxinol; sinto o passo precipitado de inumeráveis hordas errando de um para o outro lado em busca da civilização, tal como os bandos de aves migratórias procuram o Verão. Vi mulheres carregando cântaros vermelhos junto do Nilo. Acordei num jardim com um toque na nuca e o beijo ardente de Jinny. Recordo-me de tudo isso, como se recordam gritos confusos, colunas que se desmoronam e os escombros vermelhos e negros de um incêndio nocturno. A minha vida é despertar e adormecer. Umas vezes durmo, outras estou desperto."


Virginia Woolf, As Ondas, trad. Francisco Vale. Lisboa: Relógio D'Água, 1988, p. 78.

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