"Hans Füchs tirou do canto da boca o cachimbo fumegante:
- E o senhor acredita em Deus, Major Taborda?
- Por que não havia de acreditar? Ou o senhor pensa que eu me presumo ser de geração espontânea? Para a compreensão do Universo, estamos limitados por nossos sentidos. Se eu tenho um defeito de visão, vejo duas coisas em vez de uma, ou não vejo nada. Isto não quer dizer que as coisas deixem de existir, ou que existam conforme eu as veja. O próprio cérebro humano, tão bem guardado na caixa craniana, não tem percepção para tudo, por mais genial que seja. Onde está o mundo? Para onde vai o tempo? Se não consigo ter uma noção exacta dessas idéias essenciais, mesmo com as fórmulas matemáticas mais transcendentes, devo baixar a cabeça, com humildade, e admitir que há uma inteligência superior à do homem, que conduz o equilíbrio do Universo e que também me criou, como criou o senhor. Essa inteligência é Deus. Não o Deus que ameaça e castiga implacavelmente, mas o Deus que se comunica com o homem mais rude e primitivo na hora de suas aflições. Um Deus que perdoa os meus erros. Há na Bíblia um versículo que jamais esqueci. É o que nos diz, num dos Salmos: «Aquele que fez ouvido, não ouvirá? Aquele que formou o olho, não verá?» O senhor dirá que são idéias simplistas. São. Mas Deus também é simples. A simplicidade é a grande lei do Universo. Só a achamos complicada quando ela nos escapa, ou por estupidez, ou por ignorância, ou por orgulho besta. Depois de cento e cinqüenta e dois anos neste mundo, é o que tenho de mais importante a lhe dizer. Não é muita coisa, reconheço. Mas não creio que, pelo fato de ser hoje o homem mais velho do mundo, eu tenha também de ser o mais sábio."
Josué Montello, Largo do Desterro, Lisboa: Livros do Brasil, 1993, p. 291.
- E o senhor acredita em Deus, Major Taborda?
- Por que não havia de acreditar? Ou o senhor pensa que eu me presumo ser de geração espontânea? Para a compreensão do Universo, estamos limitados por nossos sentidos. Se eu tenho um defeito de visão, vejo duas coisas em vez de uma, ou não vejo nada. Isto não quer dizer que as coisas deixem de existir, ou que existam conforme eu as veja. O próprio cérebro humano, tão bem guardado na caixa craniana, não tem percepção para tudo, por mais genial que seja. Onde está o mundo? Para onde vai o tempo? Se não consigo ter uma noção exacta dessas idéias essenciais, mesmo com as fórmulas matemáticas mais transcendentes, devo baixar a cabeça, com humildade, e admitir que há uma inteligência superior à do homem, que conduz o equilíbrio do Universo e que também me criou, como criou o senhor. Essa inteligência é Deus. Não o Deus que ameaça e castiga implacavelmente, mas o Deus que se comunica com o homem mais rude e primitivo na hora de suas aflições. Um Deus que perdoa os meus erros. Há na Bíblia um versículo que jamais esqueci. É o que nos diz, num dos Salmos: «Aquele que fez ouvido, não ouvirá? Aquele que formou o olho, não verá?» O senhor dirá que são idéias simplistas. São. Mas Deus também é simples. A simplicidade é a grande lei do Universo. Só a achamos complicada quando ela nos escapa, ou por estupidez, ou por ignorância, ou por orgulho besta. Depois de cento e cinqüenta e dois anos neste mundo, é o que tenho de mais importante a lhe dizer. Não é muita coisa, reconheço. Mas não creio que, pelo fato de ser hoje o homem mais velho do mundo, eu tenha também de ser o mais sábio."
Josué Montello, Largo do Desterro, Lisboa: Livros do Brasil, 1993, p. 291.
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