"A tragédia do filósofo consiste em saber encontrar a ideia por detrás dos sinais, comunicar a sua experiência e intuição metafísica com as velhas palavras destinadas a actuar sobre o mundo exterior ou descrevê-lo. E quanto mais original é o seu pensamento mais as palavras o traem. Uma nova filosofia é com frequência uma nova terminologia, e nem sempre por intenção vaidosa, mas por necessidade, e a ilusão, que têm todos os grandes, de criar a sua própria linguagem.
A admiração universal pelos poetas -, que, na maioria dos casos, coexiste com a incompreensão quase total - nasce da maravilha de ver capturadas em formas harmoniosas os fragmentos de sensibilidade e paixão que parecem, a todos, inexprimíveis. Mas os próprios poetas sabem bem, e confessam-no, que puderam dizer porventura uma de mil partes de todo o mundo rico e prodigioso que têm em si. (...)
O pouco que arrasta, com as redes desfiadas do idioma materno, assemelha-se a um punhado de conchas quebradas em relação à riqueza fabulosa do fundo. O maior mestre de palavras é aquele que reconhece a sua própria impotência para dizer tudo com elas."
Giovanni Papini, Relatório Sobre os Homens, trad. Eduardo Saló, Lisboa: Livros do Brasil, 1986, p. 225.