"Começou então um período de sofrimento tão violento que ninguém podia aproximar-se sem ser altamente contaminado; porque o sofrimento como carência atinge um grau que tem, por força, de procurar em seu redor terreno onde vaze o seu excedente, como o prazer também. É esta a moral do trágico, a cumplicidade do desejo e o seu discurso; os baluartes da sedução, não cedendo, inventam a histeria que toda a sociedade compartilha. Aqui é preciso esclarecer que a sociedade que produziu uma lei e uma forma de relação cooperante com os outros, relação de trabalho e de protecção mútua, observa o sexo como malefício. Sabe que não é possível desmistificar o sexo e que só o pode nomear pela tangente do burlesco e da formalidade mais severa. Doutro modo, seria arrastada pelas guelras, até às profundezas da área aquática e abissal em que o sexo se liquida. Um mundo que é sexualmente claro e demonstrado é um mundo em extinção. A natureza vinga-se quando é invocada sem competente temor. O medo é um protector, nunca um lacaio."
Agustina Bessa-Luís, A Corte do Norte, 2ª ed., Lisboa: Guimarães Editores, 1996, pp. 139-140.
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