Thursday, November 26, 2009

NOVA FONTE HELICÓNICA


"I

Ninguém duas vezes passa o rio
porque os rios se afastam para morrer
ou, correndo nós,
vivemos, disséssemos,
com os rios morrendo.

E com o nível posto
na baixa altura da nascente
incorressem os vivos e
corressem os mares que não
se ajuntam mais, na mesma igualdade
longínqua.

II

Dentro de dias morre
mais alguém
para o hermético triunfo
das paisagens.
Então os sítios vão
subindo
povoam-se e entreolham-se
desencantam-se.

A órbita apodrece
descrê-se o sol."


Luiza Neto Jorge, "Os Sítios Sitiados", in Poesia, org. Fernando Cabral Martins. Lisboa: Assírio & Alvim, 1993, pp. 149-150.

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