"Lá dentro dos mosteiros há santas que redobram o martírio e há pecadoras que consolam. Não se decide quais sejam as mais credoras do céu.
As consoladoras são umas que dizem às que choram golpeadas de saudades:
- Meninas, amai, se tendes quem. Isto aqui não é inferno: é purgatório onde a esperança não morre nunca. No inferno é que há o constante blasfemar das coisas divinas. Meninas, amai. Quando mais não possa ser, diverti-vos, aligeirai o tempo. As grades não represam as enchentes do coração. Ide ver como por lá as velhas ainda representam o último acto da sua comédia. Espairecei, noviças; e, se a mestra vos não deixa, vesti o hábito de professas; que depois as vossas infidelidades ao divino esposo já correm a responsabilidade da vossa emancipação de casadas com Deus. Andai, meninas, amai santamente, amai idealmente, amai freiraticamente: aguçai os espíritos na pedra das paixões da terra e vereis como a alma se desfaz em asas a voejarem para os espirituais amores, aí por volta dos cinquenta anos pouco mais ou menos. (...) Ama por necessidade, ama por instinto, ama por passatempo, ama por vingança, ama, para que em breve o diga, para não morrer.
Nisto do amor diz a experiência que os vulcões, rebentando, cavam voragens. O coração salta na lava; mas o perigo é a queda, se a lava esfria. Debaixo está a garganta que a explosão abriu."
Camilo Castelo Branco, A Doida do Candal, 11ª ed. Lisboa: Parceria A. M. Pereira, 1971, pp. 202-203.
As consoladoras são umas que dizem às que choram golpeadas de saudades:
- Meninas, amai, se tendes quem. Isto aqui não é inferno: é purgatório onde a esperança não morre nunca. No inferno é que há o constante blasfemar das coisas divinas. Meninas, amai. Quando mais não possa ser, diverti-vos, aligeirai o tempo. As grades não represam as enchentes do coração. Ide ver como por lá as velhas ainda representam o último acto da sua comédia. Espairecei, noviças; e, se a mestra vos não deixa, vesti o hábito de professas; que depois as vossas infidelidades ao divino esposo já correm a responsabilidade da vossa emancipação de casadas com Deus. Andai, meninas, amai santamente, amai idealmente, amai freiraticamente: aguçai os espíritos na pedra das paixões da terra e vereis como a alma se desfaz em asas a voejarem para os espirituais amores, aí por volta dos cinquenta anos pouco mais ou menos. (...) Ama por necessidade, ama por instinto, ama por passatempo, ama por vingança, ama, para que em breve o diga, para não morrer.
Nisto do amor diz a experiência que os vulcões, rebentando, cavam voragens. O coração salta na lava; mas o perigo é a queda, se a lava esfria. Debaixo está a garganta que a explosão abriu."
Camilo Castelo Branco, A Doida do Candal, 11ª ed. Lisboa: Parceria A. M. Pereira, 1971, pp. 202-203.
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