Sunday, March 21, 2010
LUGARES DO ESQUECIMENTO 3
"O meu nome é um degrau
na enorme escadaria dos nomes.
Arquitectura admirável esta que cresce
dentro e fora, gente que sobe, gente que
desce, um corpo total moldando-se
sem urgência de rigor.
Dói-me cada nó dado no fio das imagens.
Os sinais aglomerados numa só palavra.
Ainda que o lume permaneça neste
quarto fechado, o ar é cada vez mais puro.
Devo então falar de terror se passo os olhos
pela rubra brasa do esquecimento.
Nenhum vestígio, porém, da face iluminada
que quebrou os espelhos.
O halo perfumado das folhas sai
para fulminar a paisagem.
As minhas atenções entram vagarosas
no fascínio do delito - irei romper
o véu do nascimento.
As veias rebentam soberanamente.
E eu ascendo pelos nomes,
atinjo a rarefacção, existo como
o profundo estranho.
Eu sei, os calendários.
Mas a minha respiração desmede-se em eras.
Digo: não há data para este momento, agora.
Não há data para o grande assombro."
Vasco Gato, Imo, Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2003, pp. 21-22.
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