Sunday, March 14, 2010

LUGARES DO ESQUECIMENTO 1


"Para a brancura das aves é já tarde,
só a morte não morre deste lado do muro,
só a morte
não põe fogo às suas naves.

Por um rasgão do céu uma luz baça
escapa-se ferida,
mal ilumina a mão vacilante,
pelo chão entorna o mel.

É na orla da noite
que as veredas desatam os nós,
e uma voz de criança
suplica um fio para atar o silêncio.

Ou a palavra - lugar de esquecimento."


Eugénio de Andrade, "Branco no Branco", in Poesia, 2ª ed. revista. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2005, p. 373.

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