Friday, March 26, 2010

SENHOR DOS PASSOS II




"Nunca uma morte terrena tinha acontecido
assim. Segurou-a ainda por um braço
antes de a lançar para o abismo.
A água surgiu devagar em cima das rochas
E o seu corpo colou-se às grades que
tapavam a entrada de um viveiro. Caiu
lançando um grito e a espuma saltou
no embate afugentando os pássaros
do mar. Ninguém reconheceu neste acto
um assassínio e no entanto o sangue desceu
por uma ranhura e a pele cortada espalhou-se
pelos cantos da praia entre as urzes.

Era o início de uma assombração."


Jaime Rocha, Os Que Vão Morrer, Lisboa: Relógio D'Água, 2000, p. 10.

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