"Basta absolutamente ser a obra de misericórdia feita a mortos, por ser misericórdia e verdade, se verdadeiramente se faz aos mortos, como a mortos. Mas alguma vez, e muitas, não basta, porque muitas vezes são servidos e honrados os mortos, não por si, mas por respeito dos vivos. E isto não é misericórdia e verdade, senão hipocrisia e mentira sem misericórdia. Não vedes nas mortes e nos funerais, principalmente dos grandes, os concursos e assistências de todos os Estados que se fazem àqueles perfumados cadáveres, de cujas almas porventura se não tem tanto cuidado? Pois não cuideis que cuidamos que o fazeis por piedade dos mortos. Todos sabemos, tão bem como vós, que são puras cerimónias e lisonjas com que incensais os vivos."
Padre António Vieira, Sermão ao Enterro dos Ossos dos Enforcados, Lisboa: babel, 2010, p. 39.
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