(museu regional, Lamego) |
"A pintura que cobre as estátuas românicas de madeira que chegaram até nós foi transformada pelo menos por uma pátina, sempre pela decomposição; e a transformação que uma e outra introduzem atinge a própria natureza destas esculturas. O nosso gosto é tão sensível à decomposição requintada de cores destinadas a brilhar quanto o foi o gosto do século passado ao verniz dos museus; se uma Virgem românica pouco degradada e uma Virgem carcomida de Auvergne pertencem, para nós, à mesma arte, não é por a Virgem de Auvergne ser um vestígio da outra, mas porque a Virgem intacta participa, em menor grau, na qualidade que reconhecemos à Virgem minada. Tanto mais que as estátuas medievais não se encontram intactas: ou retiram da sua decomposição uma qualidade semelhante à que os bronzes devem à sua pátina; ou foram repintadas ao longo dos séculos (e não apenas as da Europa). Daí o carácter falsamente popular de tantas figuras românicas ou góticas de Espanha e de Itália."
André Malraux, O Museu Imaginário, trad. Isabel Saint-Aubyn, Lisboa: Edições 70, 2011, p. 179.
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