"Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapeu largo
Quando me vêem á minha porta
Mal a dilligencia levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes o sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé d'uma janella aberta
Uma cadeira predilecta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer coisa natural -
Por exemplo, a arvore antiga
A' sombra da qual quando creanças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado."
(8-3-1914)
Fernando Pessoa, Poemas Completos de Alberto Caeiro, ed. Teresa Sobral Cunha, Lisboa: Editorial Presença, 1994, p. 43.
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