Saturday, March 8, 2014

IRMÃO SOL



"Saúdo todos os que me lerem, 
Tirando-lhes o chapeu largo
Quando me vêem á minha porta
Mal a dilligencia levanta no cimo do outeiro. 
Saúdo-os e desejo-lhes o sol, 
E chuva, quando a chuva é precisa, 
E que as suas casas tenham 
Ao pé d'uma janella aberta
Uma cadeira predilecta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer coisa natural - 
Por exemplo, a arvore antiga
A' sombra da qual quando creanças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar, 
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado."

(8-3-1914)


Fernando Pessoa, Poemas Completos de Alberto Caeiro, ed. Teresa Sobral Cunha, Lisboa: Editorial Presença, 1994, p. 43. 

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