Sunday, March 23, 2014

TURVO



"O lodo preto onde enterrei os pés, em contraste com as fitas de areia branca, os maciços de juncos, as rãs que saltavam para as poças de água, estou a ver tudo como se essas coisas ainda estivessem aqui diante de mim. Tudo aquilo era um mundo novo. E as impressões simples e isoladas gravam-se profundamente. Era um mundo novo, onde se podia respirar um pouco de liberdade e tomar um lugar entre as coisas da natureza, reconquistando um pouco da dignidade e consciência do homem. A cidade é artificial. Só o Sol e as árvores é que nos dão a nossa posição entre as coisas do mundo. Mas, seja como for, ou temos uma missão e uma inconsciente impassibilidade para as contingências adversas, ou não valemos nada."

Branquinho da Fonseca, Rio Turvo, Lisboa: Editorial Verbo, s.d., pp. 10-11. 

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