Wednesday, August 19, 2015

O VERDADEIRO LUTO


"Dever-se-ia dizer infelizmente, ou antes por sorte? O facto é que os nossos lutos não são eternos. Falo dos nossos lutos mais profundos, dos lutos cuja origem se confunde com a nossa própria vida, daqueles que nos identificamos com o bemm-amado desaparecido ao ponto de ele, para nós, não ter desaparecido, de querermos consagrar um culto religioso à sua imagem para o resto da nossa vida, até ao momento em que a barreira que para ele caiu também caia para nós. Sem dúvida, há seres tão bons que permanecem, de facto, ministros fiéis  de um culto assim, mas esse culto, ele próprio, deixou de ser o primeiro, o verdadeiro luto. Outras imagens, estranhas imagens se misturaram. Experimentamos, na nossa dor, a fugacidade de todas as coisas deste mundo, por isso sou forçado a concluir: infelizmente, os nossos lutos não são eternos."

La Motte-Fouqué, Ondina, trad. Manuela Gomes, Lisboa: Antígona, 2011, p. 173. 

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