"Ali, onde o mar quebra, n'um cachão
Rugidor e monotono, e os ventos
Erguem pelo areal os seus lamentos,
Ali se ha-de enterrar meu coração.
Queimem-no os sóes da adusta solidão
Na fornalha do estio, em dias lentos!
Depois, no inverno, os sopros violentos
Lhe revolvam em torno o arido chão...
Até que se desfaça e, já tornado
Em impalpável pó, seja levado
Nos turbilhões que o vento levantar...
Com suas luctas, seu cançado anceio,
Seu louco amor, dissolva-se no seio
D'esse infecundo, d'esse amargo mar!"
Antero de Quental, Os Sonetos Completos, Coimbra: Imprensa da Universidade, 1933, p. 52.
No comments:
Post a Comment