"Quem quiser ler Camilo em esplendor e glória, leia a Maria da Fonte, um dos maiores livros de língua e fígados e corações portugueses. Camilo é isso: génio truculento, estilo maduro de risadas entre aventuras truanescas e sentimento sufocado de algumas lágrimas. Homem da nossa lei, nem bom, nem fingido; capaz de matar com os olhos fechados e de renegar até a honra, se ela é negócio de ferir os outros. Português, não há outro tão grande nas letras. Pese aos mequetrefes da escola romântica, e realista e estrutural, todos juntos. Quando alguém, como Orfeu, consegue ser arrebatado à morte através da fidelidade de quem o ama, é porque na sua obra existe alguma coisa que não pertence ao esquecimento. Camilo é um Orfeu a meio caminho do inferno e da sua libertação. É preciso amá-lo sem consentir dúvidas a seu respeito, para que ele more com os vivos e não com os mortos."
Agustina Bessa-Luís, "O Romanesco em Camilo - A Enjeitada", in Camilo, Génio e Figura, Lisboa: Casa das Letras, 2008, pp. 25-26.
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