Tuesday, January 12, 2010

A TRANSITÓRIA FORMA CASUAL


"XVIII. Há horas, em que eu sou apenas uma transitória forma causal! Dir-se-á que a folha seca do outono adquire consciência, no meu ser, e vê, com os meus próprios olhos, a sua palidez moribunda, o seu voo incerto e o charco para onde o vento a leva...
Súbito, aparece, em mim, alguém que estava ausente. Arde-me o sangue, nas veias; exalto-me, aspiro, quero ser. E digo: Eis a minha fragilidade; mas sou eu que a contemplo. Eu e ele somos duas criaturas... E, tocado de sobrenatural, pergunto a mim mesmo, ironicamente, como a pessoa estranha: Quem és tu? Tu não és mais que a minha pobre sombra. Macaqueias a minha presença... E rio-me de mim."


Teixeira de Pascoaes, Verbo Escuro, Lisboa: Assírio & Alvim, 1999, p. 60.

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