Émile Zola, Nana, trad. Carlos Loures, Mem Martins: Publicações Europa-América, 1973, p. 163."E soprou a vela. Nana, furiosa, continuava: não admitia que lhe falassem naquele tom. Estava habituada a ser respeitada. Como ele não lhe respondia, teve de se calar. Mas não podia adormecer, voltava-se e revolvia-se.- Com os demónios! Quando é que deixas de te mexer? - gritou ele, subitamente, com um salto brusco.- Não tenho culpa de que a cama esteja cheia de migalhas - respondeu Nana secamente.Com efeito, havia migalhas. Ela sentia-as até sob as coxas, tinha comichão por todo o corpo. Uma única migalha a incomodava, fazendo-a coçar-se até sangrar. De resto, quando se come um bolo, não é costume sacudir o cobertor? Fontan, com uma raiva fria, voltara a acender a vela. Levantaram-se ambos, com os pés descalços e em camisa, levantando os lençóis, varrendo as migalhas com as mãos. Ele, tiritando, voltou a deitar-se, mandando-a ao diabo por ela lhe recomendar que sacudisse bem os pés. Finalmente, Nana retomou também o seu lugar, mas, mal se estendeu, começou a mexer-se. Ainda havia migalhas.- Arre! Estava-se mesmo a ver - repetia -, trouxeste-as pegadas aos pés... Não posso mais! Digo-te que não posso mais!E fazia menção de passar por cima do seu corpo para saltar para o chão. Então, com a paciência esgotada, querendo dormir, Fontan deu-lhe tremenda bofetada. Foi tão grande que, subitamente, Nana deu consigo deitada, com a cabeça sobre a almofada. Ficou atordoada."
Sunday, October 9, 2011
A VIDA DOS AMANTES
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