" - Não tenho dinheiro. O senhor sabe disso, padre.- Deixemos as coisas como estão. Confiemos em Deus.- Sim, padre.Porque é que aquele olhar se tornava corajoso perante a resignação? Que lhe custava a ele perdoar, quando era tão fácil dizer uma, duas ou cem palavras, se elas fossem necessárias para salvar uma alma. Que sabia ele do céu e do inferno? No entanto, ele, perdido numa aldeia sem nome, sabia os que tinham merecido o céu. Havia um catálogo. Começou a percorrer os santos do calendário católico, começando pelos do dia: «Santa Numilona, virgem e mártir; Anércio, bispo; Santas Salomé viúva, Alodia ou Elodia e Nulina, virgens; Córdula e Donato.» E continuou. Já estava prestes a sucumbir ao sono, quando se sentou na cama: «Estou a recitar uma lista de santos como se estivesse a ver saltar cabras."
Juan Rulfo, Pedro Páramo, trad. António José Massano, Lisboa: Editores Reunidos Lda, 1994, p. 33.
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