"É nossa convicção que, se as almas fossem visíveis aos olhos, ver-se-ia distintamente uma estranha coisa, isto é, que cada um dos indivíduos da espécie humana corresponde a alguma das espécies da criação animal; e poder-se-ia reconhecer facilmente a verdade, entrevista apenas pelo filósofo, que desde a ostra até à águia, desde o porco até ao tigre, todos os animais estão no homem, e cada um num homem só, se é que às vezes não se dá o caso de estarem uns poucos. Os animais não são mais do que imagens das nossas virtudes e vícios, que nos vagueiam diante da vista; não são mais do que os fantasmas visíveis de nossas almas, figuras e fantasmas que Deus nos mostra, para nos fazer reflectir e pensar. Somente, como os animais são simples sombras, não os fez Deus educáveis em toda a extensão da palavra. Com que fim? Pelo contrário, sendo as nossas almas realidades e tendo um fim que lhes é próprio, deu-lhes Deus inteligência, isto é, a educação possível. A educação social, sendo bem ministrada, pode extrair de uma alma, qualquer que ela seja, toda a utilidade que em si contenha."
Victor Hugo, Os Miseráveis, s.trad., Estarreja: Mel Editores, 2009, p. 136.
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