"Chega-se à janela de um dos quartos e olha para a rua de um outro modo, gozando de uma demorada liberdade. Vê os longos ciprestes por cima do muro do cemitério que surge no horizonte. Então vai pela casa, levantando as persianas que haviam estado fechadas meses sem fim. Ele dedicara-se a construir o seu próprio túmulo, o lugar onde ficaria para sempre esquecido dos vizinhos, dos lojistas, das pessoas da cidade, até que os bichos o começassem a comer e o cheiro atraísse alguém com os sentidos mais apurados. Mas agora quer voltar de novo à luz."
Jaime Rocha, A Rapariga sem Carne, Lisboa: Relógio D'Água, 2012, p. 60.
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