Wednesday, August 17, 2016

LINHAS


"- Msabu - repetiu ele -, acho que é melhor levantar-se. Acho que Deus vem aí. 
Quando tal ouvi, levantei-me e perguntei-lhe porque pensava isso. Com gravidade, conduziu-me até à sala de jantar que dava para oeste, na direcção das colinas. Pelas janelas avistava agora um estranho fenómeno. Havia uma grande queimada nos montes e toda a erva estava a arder, desde o cume até à planície; da casa, quase parecia uma linha vertical. Na realidade era como se uma figura gigantesca se estivesse a deslocar, caminhando na nossa direcção. Fiquei algum tempo a olhar para aquilo, com Kamante a observar o fenómeno passado ao meu lado e, seguidamente, comecei a explicar-lhe o que se passava. Pretendia sossegá-lo, pois pensava que ele tinha ficado terrivelmente assustado. Mas a explicação não pareceu produzir uma grande impressão sobre ele; era evidente que considerava ter cumprido a sua missão ao chamar-me.
- Bom, está bem - disse ele -, talvez seja assim. Mas achei que era melhor chamá-la, para o caso de Deus vir aí". 


Karen Blixen, África Minha, trad. Ana Falcão Bastos, Lisboa: Círculo de Leitores, 1987, p. 38. 

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