Wednesday, January 3, 2018

MEMÓRIA



"fui encontrar madame bovary,
trajando lycra negra e cabedal,
a sair de uma loja tax free, 
já na sala de embarque. por sinal

foi ela quem me viu. eu não a vi, 
cheio de educação sentimental.
aproximou-se e disse: « - por aqui?»
em pose colunável. informal

e desflaubertizada, ela acendeu 
com um isqueiro de ouro a cigarrilha. 
ofereci-lhe um café. não quis, segura

e coleante, pois. num gesto deu
a entender que brilha e vibra e brilha 
por desistir de ser literatura."


Vasco Graça Moura, Antologia dos Sessenta Anos, Porto: Edições ASA, 2002, p. 137. 

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